10 de abr. de 2010

Ou isto ou aquilo...

Tem um texto muito lindo do Vinícius de Morais que fala sobre os desafios de enfrentar uma página em branco. Nos tempos modernos, valem suas palavras com relação à tela em branco, para quem assume voluntária ou profissionalmente o compromisso de criar e manter um blog.
Os temas vêm de toda parte. "As idéias estão no chão, você tropeça e acha a solução", como diria a bela música dos Titãs. Mas como estamos no mundo da web, as idéias chegam por email, por twitter, por orkut... E foi assim que o texto abaixo chegou a mim, enviado por uma grande amiga. Ele me fez refletir e é sobre este pequeno extrato que resolvi escrever nessa linda manhã de domingo:


Nunca pensar no outro caminho
Postado por Paulo Coelho em 13 de maio de 2010 às 00:13 na globo.com


“Uma vez que escolhemos um caminho, precisamos esquecer todos os outros”, dizia o mestre aos seus aprendizes.
Lowon, o discípulo que não sabe aprender, escuta com atenção. Na saída da conferência, Lowon é convidado por um grupo de pessoas para realizar uma palestra num bar.
“Recuso qualquer pagamento”, diz Lowon. “Fiz minha escolha, sou um servidor, quero divulgar a palavra da Fé”.
O grupo fica contente, e Lowon dá a palestra. No final, pergunta: “apenas por curiosidade, eu gostaria de saber: quanto dinheiro eu recusei?”
Ao saber do excelente pagamento que lhe seria feito, Lowon sente-se explorado pelo grupo que o convidou, e vai queixar-se com o mestre.
“Quando a gente faz uma escolha, deve sempre esquecer as outras alternativas. O homem que segue um caminho, e fica pensando no que perdeu ao abandonar os outros, nunca chegará a lugar nenhum”, é a resposta do mestre.
Após ler o texto, pensei sobre a quantidade de vezes em que nos perguntamos: "e se???". Inútil, uma vez que não teremos a chance de voltar e trilhar aquele caminho relagado quando fizemos a escolha.
No filme "Efeito Borboleta", o personagem principal tem este dom. Ao ler seus diários escritos na infância, consegue viajar pelo tempo e alterar suas escolhas, mudando as configurações de seu futuro. Um poder que não temos e que apenas a ficção pode nos fazer refletir a respeito.
Fico pensando que desta impossibilidade de trilhar o caminho relegado nascem todos os dias grandes frustrações. Ou, paradoxalmente, grandes alegrias. Algumas vezes o caminho escolhido pode ser árduo, mas reserva alegrias, conquistas, aprendizados. De toda forma, nunca saberemos aonde o outro caminho poderia levar.
Somos seres que fazem escolhas. A escola onde vamos estudar, a pessoa a quem vamos amar, os filhos que queremos ou não queremos ter, o programa do fim de semana, a viagem de férias, o emprego, o bicho de estimação...
O tempo todo temos que optar por isso ou aquilo. E quando escolhemos isso, desistimos daquilo. Simples assim, como no breve poema de Cecília Meirelles, que me vem à mente para fechar este posting.

(já que abri com um autor de quem nem gosto muito, mas tem lá seus méritos, nada como fechar com uma poetisa que marcou minha infância).

Ou isto ou aquilo
Cecília Meirelles

Ou se tem chuva e não se tem sol,
ou se tem sol e não se tem chuva!
Ou se calça a luva e não se põe o anel,
ou se põe o anel e não se calça a luva!
Quem sobe nos ares não fica no chão,
quem fica no chão não sobe nos ares.
É uma grande pena que não se possa
estar ao mesmo tempo nos dois lugares!
Ou guardo o dinheiro e não compro o doce,
ou compro o doce e gasto o dinheiro.
Ou isto ou aquilo: ou isto ou aquilo...
e vivo escolhendo o dia inteiro!
Não sei se brinco, não sei se estudo,
se saio correndo ou fico tranqüilo.
Mas não consegui entender ainda
qual é melhor: se é isto ou aquilo.

(O livro "Ou isto ou aquilo", foi publicado pela Editora Nova Fronteira em 1990, no Rio de Janeiro, Brasil. Li quando era criança, já faz algum tempo....)

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