Fonte: www.missaosaldaterra.org.br |
O lugar é muito organizado, limpo, tem disciplina rígida. Seus moradores são crianças e adolescentes que vivem afastados da família, quer por situação de abandono, quer porque em seus lares não existem condições para que cresçam com segurança.
Algumas chegam ali com pouco tempo de vida. Algumas são adotadas. Algumas voltam a morar com suas famílias. Algumas crescem ali. Conhecemos um rapaz que estuda Engenharia Químina na Universidade Federal de Uberlândia. Ele cresceu ali e hoje mora sozinho, foi incentivado a estudar e se tornar independente.
O espaço recebe subvenção da Prefeitura e também doações da comunidade. As crianças estudam em escolas públicas e participam de atividades adicionais. Todas colaboram para que a vida naquela pequena comunidade transcorra em harmonia. São constantemente fiscalizados pelo juizado de menores. Os responsáveis procuram manter a ordem, os bons costumes, o incentivo à educação, o desenvolvimento de crenças e valores.
As crianças são carinhosas, brincalhonas, curiosas. Os adolescentes querem se vestir na moda, gostam de dançar, cantar, paquerar. Como em qualquer família, compartilham uma casa, são cuidadas por alguém responsável, ajudam nas tarefas do lar. Penso que alguns sonham em ter sua própria família. Outros sonham em se tornar adultos, talvez para construírem suas próprias famílias.
Uberlândia tem inúmeros exemplos dessas instituições. Há muitos anos, quando trabalhava na American Express, ia com certa frequência à Missão Esperança, no Jardim Brasília. As condições eram bastante precárias, mas os fundadores faziam de tudo para dar um lar àquelas crianças, também abandonadas ou retiradas das famílias.
Lembro-me que fazíamos muitas campanhas para ajudar aquele abrigo. Festas de Dia das Crianças, de Natal, campanha do agasalho, doação de recursos financeiros. A sensação que eu tinha é que nada daquilo adiantava, porque depois da festa, da comida, brincadeiras, abraços afetuosos, a gente sempre ia embora. Uma vez, contratamos um trenzinho para passear com as crianças pelo bairro. Foi uma manhã deliciosa. Com crianças no colo e em volta de mim, virei criança de novo, dei tchau para desconhecidos, brinquei, cantei músicas da Xuxa, dei muita risada. Depois fui para casa, feliz, mas com um buraco estranho no fundo do peito.
Sou uma mulher apaixonada por crianças. Elas também me adoram, talvez porque eu seja um pouquinho moleca. Não tive a sorte de ter filhos, acho que não os quero mais. Aos 43 anos, sei que é tarde para começar, embora seja cedo para desistir. Por isso não tenho mais tanta certeza assim. Aos 20, um de meus grandes sonhos girava em torno da maternidade. Por isso, talvez, a situação de crianças em estado de abandono me abale profundamente.
Quando vejo exemplos como o da Missão Criança, Missão Esperança, Lar Jesus Maria e José e tantos outros, agradeço a Deus por colocar nesse mundo pessoas tão altruístas. Eu gostaria de fazer mais, mas não faço. Sem justificativas ou culpas. Talvez um dia eu encontre um caminho de doação, talvez não. O que importa é saber que moro em uma cidade cheia de bons exemplos. Pena que ainda exista o abandono, as brigas em familia, mulheres que engravidam por falta de informação ou por querer prender um homem em uma relação infeliz. Homens que engravidam mulheres sem a menor responsabilidade pela criança que vai nascer.
Parabéns a esses heróis anônimos de Uberlândia, que cuidam dos filhos do mundo como se fossem seus. Quem pensa em adotar, visite um desses abrigos. Existem leis rigorosas, filas de espera, dificuldades. Mas acredito que valha a pena.
Um comentário:
Fael_udiJan 15, 2012 05:18 PM
Muito bonita esta história, pessoas altruístas nos comovem e fazem o bem. Eu e minha esposa queremos muito conhecer este lugar que semeia esperança e amor....
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