14 de dez. de 2010

Para que se contentar com o mínimo se você pode brilhar?

Entrei no carro e como sempre faço, liguei o rádio. Tocava Frejat. "Todo mundo sabe que homem não chora". Dissonância momentânea entre a letra da música e a realidade que eu acabara de viver, onde vi não apenas um, mas alguns homens chorando. Lágrimas que caíam na forma de emoção. Outras na forma de superação. A maior parte delas, na forma de ousadia.
Homens e mulheres que presentearam uma platéia atônita diante de uma apresentação de um projeto de fim de curso em uma universidade particular da cidade. Sim, apesar de muito jovens, eram homens e mulheres maduros, conscientes do que aprenderam e colocaram em prática na forma de uma proposta comunicacional para uma ONG de Uberlândia, chamada Ipê Cultural.
Há cerca de 18 meses tenho o privilégio de ser professora na ESAMC de Uberlândia, uma instituição particular de ensino que, assim como todas as universidades contemporâneas, tem qualidades e pontos a serem aprimorados. Uma dessas qualidades é o formato dessa avaliação final de curso, chamada PGE, que permite aos alunos colocarem em prática seus conhecimentos, na forma de um plano de marketing, comunicação, negócios ou estratégia. As equipes podem combinar diferentes saberes, com membros oriundos de cursos como Administração, Propaganda, Relações Públicas e Design.
O que assistimos estarrecidos hoje foi a apresentação de uma equipe chamada Candeia, que ousou apresentar seu projeto na forma de uma apresentação teatral, com um roteiro praticamente impecável, baseado nas análises de marketing feitas para o Ipê Cultural, uma organização não governamental de Uberlândia cujo fundador é um dos poucos idealistas que conheço e realmente merecem esse nome.
Desde o primeiro momento, o grupo captou completamente minha atenção. Ri alto, chorei, me emocionei, critiquei silenciosamente pequenos equívocos. Já na entrada, o primeiro impacto, o figurino era composto por saias e leques, usados igualmente por homens e mulheres. Um homem que tem a audácia de usar saia diante de seus colegas de classe, professores e demais alunos da faculdade já é, por definição, um homem de coragem. O texto, ao invés dos ensaiados jograis em que se transformam muitos projetos acadêmicos, fluía como em um palco. Aliás, o auditório, sala de aula em tantas situações, tornou-se um palco sob os corpos desses alunos que só podem ser definidos de uma maneira: brilhantes.
O texto foi redigido com cuidado, as repetições, a entonação, a interação entre os alunos / atores. Eles apresentaram temas como análise do ambiente interno e externo, matriz swot, terceiro setor, relacionamento com stakeholdes de uma maneira transparente, tão simples de entender que quase mataram uma professora de inveja pela capacidade comunicacional. Inveja branca.
Aqueles homens e mulheres aceitaram o desafio de se superar. Lembro-me bem que, quando apresentaram a primeira versão do projeto, no meio do ano, sofreram duras críticas. Naquela noite, vi lágrimas de tristeza. Hoje à noite, vi lágrimas de realização. Mas antes de serem homens e mulheres, são alunos de uma universidade privada, jovens da chamada Geração Y, tão criticados pela gente, um bando de pessoas mais velhas que muitas vezes ficamos indignadas com o comportamento deles. Somos diferentes, temos que aprender a conviver com isso. Melhores ou piores? Não faço a mínima idéia. Diferentes? Certamente.
A equipe Candeia mostrou que qualquer um tem o poder de se superar, mas que isso depende de algumas coisas, como o direcionamento do professor, que deve estar disponível e aberto para compartilhar seus conhecimentos; a capacidade de aprendizado, de mergulhar em leitura, de desafiar-se e ir além do que foi dado em sala de aula; de muitas horas de trabalho, fins de semana sacrificados, discussões, brigas, correções de rota.
Esse grupo de homens e mulheres, mesmo tão jovens, estabeleceram nessa noite um novo patamar do que se espera de um aluno que está concluindo seu curso. Não é que todos devam optar pelo teatro ou pelos formatos inusitados, mas que cada um deve buscar se superar. Por que aceitar uma nota 7 e passar de ano, se é possível conquistar um 10 e entrar para a galeria dos melhores? Ocupar esse lugar não é para qualquer um. É para aqueles que sonham, que querem conquistar o mundo e não apenas a nota mínima. Sinto falta disso nos jovens de hoje. Eles se contentam em passar de ano com notas limite. Poucos buscam superação.
Fiquei tão emocionada com o que assisti que quis compartilhar nesse espaço tão meu e de alguns leitores queridos. Ao longo da apresentação, me contive para não bater milhares de palmas, soltar assobios, abraçar cada um dos alunos / atores / profissionais. O trabalho teve falhas, que podem facilmente ser superadas. Mas foi um esforço de gente que não se contenta com pouco, gente que quer sempre mais, que busca a perfeição, que tem coragem de ousar, quebrar paradigmas, que estuda, que brilha e sabe da força que fez para brilhar.
Parabéns aos alunos da equipe Candeia da ESAMC de Uberlândia. Não é apenas porque sou professora nessa instituição, mas uma faculdade que incentiva o presente que recebemos hoje como educadores, é um lugar muito especial, onde estão se formando mais que profissionais melhores. Estão se formando pessoas melhores. Parabéns também ao professor Rubens Santos, nosso maestro!

Hoje, 20 de dezembro, saiu o resultado da avaliação final do PGE na ESAMC Uberlândia e a equipe Candeia ficou com 9,7 (nota mais alta do semestre). Os alunos ganharam um MBA na própria faculdade. Eles merecem!

6 comentários:

Unknown disse...

Texto impecável! Parabéns Adriana. Agora me deu mais vontade de assistir às filmagens.

Cléa Vital de Oliveira disse...

Conheço o trabalho do instituto Ipê e além de parceira, sou uma admiradora da ONG. Adriana, Obrigada por compartilhar conosco um texto de alta qualidade!Já alguns anos admiro sua postura profissional!Abraços, Cléa Vital de Oliveira

Hanny disse...

Adriana parabéns pelo texto...e se fosse eu me sentiria honrada em receber tanto elogio..imagino que tenha sido lindo com tudo que você disse aqui,,,e lamento ter perdido a apresentação deles.
Espero poder arrancar elogios e palmas no dia do meu PGE.
E obrigada por falar tão bem de nossa instituição que para muitos não tem essa qualidade que nós que estamos ali conseguimos enxergar.

Anônimo disse...

Dri, eu fiquei muito chateado de não poder assistir a apresentação. Falei com eles um dia antes de minha viagem. Ele não me contaram como seria, apenas disseram: ACREDITE SERÁ DIFERENTE!
Eu acreditei porque sempre foram bons alunos. Conversamos pouco sobre o projeto. Mas estavam muito seguros.
Tive notícias através do Twitter pelo Prof. Renato Bontempo e agora pelo seu blog. Eu também tenho um orgulho muito grande de trabalhar nesta instituição pelo simples fato de que podemos sim contrinbuir para nao somente formarmos profissionais, mas pessoas melhores mesmo!
Não somente eles, mas a grande maioria dos formandos lutou por muito além do 7.
Eu sempre digo, 7 é para perdedores! Lutar pelo 10 é o que faz eles especiais de verdade, mesmo que não consigam!
Parabéns por seu texto! Por ele, acabei tentando imaginar como foi!

Prof. Luciano Araújo

Tatiana Parreira disse...

Muito bom! Parabéns Candeia! Ótimo texto Adriana.=)

Jaque disse...

Obrigada professora pelas palavras!
São pessoas como vc que fazem a gente sempre querer crescer mais e mais!
A vitória é de toda a ESAMC.