17 de jul. de 2011

Afinal, o que é notícia?

Mais de uma vez usei o espaço do meu blog para falar sobre o jornalismo que se pratica em Uberlândia. Algumas vezes elogio posturas. Outras vezes critico. Hoje, queria apenas questionar. Há uma semana, a cidade sedia um festival de música erudita de altíssimo nível, com profissionais vindos de diferentes partes do mundo. Para os padrões locais, isso é ou não é notícia?
Nos primeiros dias do festival, o jornal local dedicou um espaço tímido para falar da programação e agenda. A cada edição esse espaço foi minguando, minguando... restringe-se na edição deste sábado a uma nota na seção de agenda cultural. Vi alguma coisa nos sites jornalísticos e nada mais. Nada nas emissoras de TV. Nem mesmo a Rádio Universitária, ligada à Universidade Federal de Uberlândia, promotora do evento, dedicou-lhe espaço jornalístico.
Aprendi na faculdade que o conceito de notícia envolve o tripé ineditismo, atualidade e interesse geral. Acredito que o Movimento Internacional de Música envolve pelo menos dois desses elementos, uma vez que música erudita realmente não é algo de interesse geral em uma cidade onde as preferências culturais são mais voltadas a outros gêneros musicais. Talvez seja essa a razão da baixa cobertura jornalística que o evento vem recebendo.
O Mimu é inédito, é a primeira vez que a cidade recebe um festival deste porte. Músicos de diversos países vieram ao Brasil para ensinar aos nossos músicos a arte de seus instrumentos. É atual, está acontecendo agora, coloca Uberlândia no cenário da música erudita nacional. Diariamente, centenas de pessoas participam das apresentações no Center Convention, pessoas de todos os tipos, entre estudantes e amantes da música. É também um novo tipo de turismo, o cultural, que movimenta a economia e traz riqueza para a cidade.
Fiz faculdade em Londrina, no Paraná, onde acontece anualmente um Festival de Música similar. A imprensa da cidade noticiava o evento diariamente. Além da agenda, fazia matérias sobre histórias de vida dos músicos, sobre a origem dos instrumentos, sobre as peças que seriam apresentadas. Na época, o papel da imprensa era o de mobilizar não apenas quem gostava de música, mas despertava o interesse de quem não conhecia. As matérias eram todas muito criativas, emocionantes e abrangentes. Os concertos aconteciam em diferentes pontos da cidade e muita gente ia conferir porque tinha visto matéria na TV ou lido no jornal e ficava curioso.
Sei que Uberlândia é uma cidade onde cultura é um tema delicado. São poucos os investidores, poucos os espaços, poucos os incentivos. Mas o Mimu Festival é notícia, que vem sendo ignorado pelos meus colegas de profissão. É como se a cidade não estivesse tomada por mais de 300 jovens músicos, que se apresentam todas as tardes e noites pelos diferentes cantos. O campus Santa Mônica respira ao tom dos violinos, violoncelos e flautas. Até os pássaros andam cantando diferente por lá.
Reclamamos muito da educação em nossa cidade. No trânsito, nos estabelecimentos comerciais, nas filas de pontos de ônibus. Nos espetáculos do Mimu, podemos ver exemplos de gentileza, disciplina, educação, beleza. É uma pena que a imprensa local não tenha visto interesse em divulgar tudo isso, preferindo ater-se às mesmas pautas de sempre. A música educa o espírito, estimula o respeito pelo outro, leva a uma reflexão muito bonita sobre nossas próprias potencialidades.
Queria parabenizar Viviane Taliberte e ao regente Alex Klein, que conduzem o Mimu Festival com beleza, classe e muita alegria. Parabenizar à Uberlândia Refrescos que, além de patrocinar, marcou presença. Uberlândia é uma cidade encantadora e vocês contribuem para torná-la leve como nota musical nestas duas semanas. O fato da imprensa local subestimar esse feito é triste, mas não lhes tira o brilho e mérito. E que venham os próximos.
Para quem já foi e quer matar saudade, selecionei um trechinho que achei no You Tube de Chega de Saudade. Para quem ainda não foi, espero que sirva de incentivo. Minha respiração ficou suspensa nesta noite, de tanta beleza.

Nenhum comentário: