5 de jun. de 2010

Pequeno tratado das grandes alegrias

Já reparou como coisas pequenas podem trazer enormes alegrias? Estava pensando a respeito disso agora, quando desci para colocar roupa na máquina de lavar e dei de cara com uma bela flor branca cujo botão se abriu no pequeno Manacá que cultivo no quintal de casa.
Há algumas semanas acompanho os botões, que brotaram como se fosse pipoca pulando na panela dos meus vasos. A pequena árvore está carregada de flores potenciais, que esperam pacientemente o momento de se abrir. E o Manacá tem uma característica interessante. A flor nasce branca, vai ficando rosada, desbota e por fim cai, em um ou dois dias.
Quando vi a primeira flor aberta, pequena e linda, vivi um desses momentos de alegria inexplicável. Como quando a gente encontra por acaso com uma amiga de quem gosta muito, justo no dia do aniversário dela (isso me aconteceu ontem!). Ou encontra uma foto de um momento especial. Ou abre a janela e dá de cara com a Lua Cheia. Ou ainda quando começa a tocar Woman, do John Lennon, no rádio (o que acontece nese momento). Alegria que chega sem mais nem menos e toma conta.
Ontem, conversando com uma amiga, ela me contava que fica vigiando os botões de suas plantas, esperando que as flores desabrochem. Costumo fazer isso também. Minha casa é cheia de plantas, em especial as floridas. Fico esperando os botões, depois as flores. Comemoro cada uma delas. Fico namorando todo o processo e sempre reflito sobre a sabedoria da natureza. A planta tem a hora certa de desabrochar. E ela não vai fazer isso nem antes, nem depois. As condições climáticas resultantes do aquecimento global tem feito com que elas fiquem um pouco confusas, mas elas desabrocham quando é chegada a hora.
Violetas, orquídeas, calanchoes, beijos, azaléas, trevos de quatro folhas, bonsai... todos moram no meu quintal e florescem vez ou outra, quando chegada a hora. As pragas insistem em comer suas folhas, o sol ou a chuva fortalecem ou enfraquecem, mas os botões estão todos lá, em seu potencial de virar flor. Penso que assim também somos nós. Desabrochamos quando é chegada a hora. Desabrochamos para o amor, para a carreira, para a maternidade, para envelhecer, para os outros. Mas diferentemente do que acontece na natureza, a gente se inquieta quando o desabrochar demora. A gente quer tudo ao mesmo tempo e agora. Quer virar flor quando ainda está nutrindo as folhas. Quer abrir botão quando ainda está fortalecendo as raízes. Existe um tempo de preparo, de expectativa e ansiedade que precisa ser vencido antes de virar flor. As flores do meu quintal sabem disso. Por mais que eu as vigie, elas brotam apenas quando estão prontas. Não quando eu quero.
A natureza ensina. Observar o desabrochar do Manacá no meu quintal me ensina e perceber que o momento de desabrochar depende do lado de fora (sol, temperatura, água, terra) e do lado de dentro (amadurecimento). Quando uma flor desabrocha, na verdade ela explode, pois já não cabe em si. E nessa explosão, a beleza toma conta do meu pequeno quintal.

Para os amigos Marcelo Couto e Marco Lara, que me deram as plantas que são as rainhas do quintal, um bonsai de mais de 15 anos e uma pata de elefante. Ambos não dão flores, mas me encantam com seus brotos. Mais que belas plantas, são símbolos de amizade.

2 comentários:

Nina disse...

As coisas mais simples da vida nos trazem tanta alegria em nossa vida... Hoje a maioria das pessoas não dão valor.

Anônimo disse...

Adoro ler esse texto, já devo ter lido uma três vezes, e sempre me emociono. Obrigada por escrever palavras tão bonitas! Rejane Rezende