21 de jul. de 2012

O amor e o tempo




Gosto de ir à missa de manhã. Um jeito bom de começar o dia, ouvindo Padre Júlio em suas pregações sempre tão cheias de sentido. Hoje, particularmente, a missa me fez refletir bastante. O tema era o bom pastor, que está sempre pronto a cuidar de suas ovelhas, mesmo quando está pronto para descansar.
Mas teve uma outra coisa que me chamou atenção. Ao final da missa, antes da eucaristia, ele celebrou as Bodas de Ouro de um casal. Cinquenta anos de vida conjugal. Dois velhinhos, portugueses, que caminhavam de mãos dadas pelo corredor central da igreja, sob olhares de desconhecidos. Olhares admirados.
Acompanhei com carinho aquela celebração. O olhar dos dois era aquele de quem compartilhou uma longa jornada. Devem ter filhos, netos. Devem ter brigado, discutido. Nem tudo deve ter sido fácil, mas foi possível chegar aos 50 anos juntos.
Meu sorriso desenhou-se rapidamente para acompanhar aqueles dois. Nas palavras do Padre Júlio, o reconhecimento de um amor que ainda espero sentir. A gente que ainda não encontrou um companheiro tem uma certa invejinha dessas cenas, uma vontade de estar do outro lado. Não pelo casamento, mas pela alegria do encontro.
Ainda na missa, ao meu lado, mas a quilômetros de distância, alguém por quem me encantei um dia. Alguém que foi importante, mas hoje não faz parte do meu caminho. Algumas vezes, passamos um pelo outro sem nos olhar, como se fôssemos estranhos. Outras nos cumprimentamos distantes, fazemos perguntas tolas sobre o tempo e os segundos de encontro passam vazios.
Meu coração palpitou um dia por esse homem. Minha boca foi a mais feliz do mundo com seus beijos deliciosos. Minha alma ficou feliz quando o vi na igreja, o que para mim é algo importante. Mas passou. Acabou rapidamente. Ficou ali.
Ainda trago algumas barreiras para abrir meu coração. Elas se construíram ao longo de muita história, de aprendizados que criaram raízes difíceis de serem arrancadas. Mas em tudo se dá um jeito. Ontem, ao cuidar do meu jardim, demorei um bom tempo para arrancar um tronco seco de um vaso. Ele estava muito enraizado. Ao conseguir, percebi que a terra em volta dele estava cheia de minhocas. Resolvi reaproveitar essa terra e alimentar vários outros vasos do meu pequeno jardim. Minhocas são asquerosas, mas são boas para as plantas. São serzinhos nojentinhos, mas produzem algum tipo de alimento que faz com que o verde fique mais verde.
Assim deve ser meu coração. Algumas experiências fincaram suas raízes de maneira muito aprofundada. Está sendo preciso rasgá-las. As coisas ruins são as minhocas, que apesar de me deixarem tristes, me ensinaram coisas boas, serviram para adubar sentimentos que ainda não conheço nem sei se tenho a capacidade de ter.
Para o casal que completou cinquenta anos de união, desejo muita felicidade. Para o homem tão longe e tão perto, agradeço por me ajudar a retirar raízes mortas. Para o Padre Júlio, meu mais profundo carinho. Para amar, deixar que as coisas aconteçam. Sem mais.
Para fechar, um clipe que adoro, cuja música ouvi semana passada, em show com o próprio intérprete. Clique aqui par ouvir. Meus versos favoritos:

"Procuro um amor que seja bom prá mim,
Vou procurar, eu vou até o fim."

Deve ter sido desse jeito que os velhinhos portugueses superaram todas as barreiras. 

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