21 de jul. de 2012

Diamantina: cidade musical


Igreja de São Francisco, em Diamantina
Semana passada, ao lado de bons amigos, viajei para Diamantina, cidade histórica situada à margem da Estrada Real, no coração de Minas Gerais. Fomos assistir à Vesperata, evento musical ao ar livre, onde bandas da cidade tocam um repertório variado. Os músicos posicionam-se nas sacadas dos velhos casarões. São colocadas mesas no largo, onde outrora eram comercializados diamantes. Muitos se sentam no chão, nas velhas calçadas de pedras, que contam muitas histórias da Rua da Quitanda.

Na manhã seguinte, um belo e frio domingo de sol, fomos à igreja São Francisco, onde dezenas de turistas se acomodaram para assistir a um sarau, organizado por uma escola local. Cobram-se ingressos, que são revertidos para a preservação da  própria igreja. Trata-se de um coral de crianças e adolescentes, regidos por uma senhora que tem paixão no olhar.
Tudo em Diamantina respira cultura. Nas ruas de pedras, a lembrança dos escravos responsáveis pela sua construção. Visitamos um museu onde o guarda, muito bem informado, nos contou sobre tradições, objetos, histórias de outras épocas. No sarau, a regente também explicava sobre pequenos detalhes, que faziam parte do passado daquele lugar, tão especial.
Fiquei pensando em nossa Uberlândia e no quanto deixamos nosso passado para trás. Nosso centro conserva poucos prédios antigos. Sua arquitetura é uma grande mistura de estilos, alguns velhos prédios se escondem na fachada dos comércios. Preservar nunca foi vocação de Uberlândia, muito pelo contrário, olhamos sempre para a frente. Nosso passado nos interessa pouco. Ou quase nada.
Durante o sarau em Diamantina, chamou-me atenção que as crianças cantavam um repertório sofisticado, de canções compostas com um português erudito. Fiquei imaginando que, para aquelas crianças, as palavras soam muito mais harmônicas que nas letras analfabetas do presente, que me recuso a reproduzir.
Em Uberlândia, há algumas iniciativas de incentivo à música, ao teatro, ao desenho e à escrita. Precisamos desesperadamente de mais. Já temos uma ou duas gerações perdidas no que diz respeito à cultura. Jovens que se orgulham de nunca ter lido um livro, que consomem música da pior qualidade, apresentam grande dificuldade em entender o que lêem. São esses mesmos jovens que frequentam bancos escolares onde são cada vez menos cobrados, menos estimulados, menos desafiados. Em algumas escolas, passam de uma série escolar a outra, mesmo sem ter assimilado conceitos básicos de boa educação.
Me assusta muito o futuro da minha cidade, do meu país. A educação é cada vez mais sucateada. Professores que não querem ensinar, que não conhecem novas tecnologias, que muitas vezes desprezam seus alunos. Mal remunerados, param de estudar, de se atualizar. Educar é apenas meio de vida, onde se custeia meia vida, uma vez que educar-se e manter-se atualizado custa caro.
Ë preciso pensar que a escola é um espaço onde podemos educar nossos jovens a gostarem de ler, de desenhar, de pintar, de ouvir música, de experimentar. Não é lugar para conteúdos pasteurizados, para a imposição do medo, para jogos de poder. A escola é tão importante em nossas vidas que a gente devia passar por ela e fazer reverência, como fazemos com igrejas. É na escola que uma criança do interior de Minas Gerais começa a aprender música e encanta uma platéia de turistas com sua belíssima versão de Ave Maria.
Parabéns à liderança de Diamantina, que tantas coisas boas faz para estimular a cultura e o turismo local. Temos muito a aprender com essa linda cidade. Para quem quiser conhecer um pouquinho, busquei um vídeo na web. Para assistir, clique aqui.

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