14 de set. de 2012

Fiquei para titia. Oba!


Infelizmente, aos 43 anos de idade, conclui que não viverei mais a experiência da maternidade. No começo foi triste fazer essa constatação. Sonho acalentado desde menina, mas que ficou para trás por muitos motivos, entre eles um dos meus princípios básicos, de não ser mãe sozinha. Sou moderninha e independente, mas nunca tive vocação para ser mãe fora do contexto da família.
Nada a ver com moral e bons costumes, mas como a crença de que uma criança, para viver em equilíbrio, precisa das duas figuras - mãe e pai.
Mas aí, resolvi viver a delícia de ficar para titia. Que se danem os que usam essa expressão pejorativamente. Ficar para titia é uma experiência intensa e talvez mágica em alguns momentos. Como foi a semana do nascimento do Joaquim, meu mais novo sobrinho. Trabalho fora da cidade onde vive minha família. Saí cedo de casa e nunca mais voltei. Por isso, não vi nenhum dos outros sobrinhos nascerem. Sempre cheguei depois.
Dessa vez, estava na maternidade. Infelizmente, em meio a um "cisma" familiar, sem precedentes e totalmente desnecessário. Mas não é disso que se trata a experiência. Quando o bebezinho foi finalmente liberado na UTI neonatal, quando pude vê-lo ali, tão pequeno, uma explosão de amor tomou conta do meu peito. Chorei tanto que nem conseguia acreditar. Chorei de amor. Chorei também de tristeza pela família em pé de guerra, justo em um momento tão mágico quanto a chegada de uma nova vida. Mas isso é problema deles, não meu, não do pequeno Joaquim.
Ele chegou como um pequeno anjo. Vermelhinho, chorando. Por mais que eu tentasse conter a emoção, foi maior que eu. Chorei muito, um choro novo, que nunca tinha chorado. E olha que sou boa nisso. Sou uma chorona master. 
Quase ao mesmo tempo em que o bebê chegou, assumi o papel de madrinha da Manuela, filha dessa mesma irmã. Uma criança criativa, inteligente, engraçada, carinhosa. Passei três dias inteiros cuidando da criaturinha. Como não sou mãe, tive que descobrir  as coisas ao fazer. E confesso que me marcou muito. Alimentar, dar banho, colocar para dormir, contar histórias, brincar, vestir, dar bronca, colocar no carro, calçar, consolar, rezar, cuidar. Foi a primeira vez, em toda a minha vida, que alguém dependeu tão integralmente de mim. 
Ser mãe deve ser uma experiência realmente especial. Ser tia, principalmente neste contexto de assumir temporariamente o lugar da mãe, é algo que vai me marcar para sempre. Primeiro pelo tamanho do amor, de acordar de noite para ver se a criaturinha respira. Depois, porque o amor de uma criança deveria poder neutralizar o desamor dos adultos. Enfim, porque as crianças nos levam a viajar pelo túnel do tempo, para um universo onde a imaginação existe e abre portas para universos imaginários, onde é possível ser tudo, inclusive assistente da Mulher Gato.
A vida é boa comigo. Vivo experiências profundas, talvez porque me entregue a elas com prazer e felicidade. Já sonhei em ter meus próprios filhos. Já amei duas vezes homens com quem pensei que isso pudesse acontecer, mas não deu. Hoje vivo a certeza das minhas escolhas. Não carrego arrependimentos. Uma ponta de frustração sim. Mas tudo tem seu tempo e se edifica. Hoje me fiz mais forte, consciente do caminho que tracei. Ventanias e sol quente podem me fazer andar mais rápido ou mais lentamente, mas o rumo dos passos me conduz para um bom lugar.
E viva a delícia de ser tia!

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