1 de out. de 2011

Uma nova forma de pensar as relações de consumo e cidadania

Fonte: www.cafebox.com.br
Não sei de onde isso veio, mas tenho pavor de desperdício. Não deixo comida no prato, esquento o que sobrou do almoço na janta, apago a luz ao sair dos lugares, verifico se tem torneira pingando. Por isso me assusta tanto ver o desperdício coletivo de alguns recursos tão finitos do nosso planetinha azul, cada vez mais explorado.
Me dói ver gente desperdiçando água. Tem dias em que vou caminhar no Parque do Sabiá e presencio diversos bebedouros vertendo água pelo encanamento. Mais de uma vez já falei com o vigia. Sabe o que ele faz? Nada. Já aconteceu de um bebedouro vazar por vinte dias direto, sem nenhuma providência.
Outra coisa são as pessoas usando a mangueira como vassoura. Isso dói na alma, aquela água correndo pela calçada, fluindo para os bueiros. Seria mania de limpeza ou preguiça mesmo? Minha ajudante lava a calçada de casa com balde, gasta muito menos água. As plantas a gente rega com o regador, faz uma boa diferença na quantidade de água gasta.
Energia também é algo muito desperdiçado, em especial nos prédios públicos. Eventualmente volto mais tarde da faculdade e passo perto do campus Santa Mônica depois que as aulas já terminaram. Me impressiona a quantidade de luzes acesas. Sei que algumas ficam assim por segurança, mas deve haver uma medida para se economizar um pouco os recursos. Existem sensores de movimento, de presença, entre outros. Eles permitem saber se tem pessoas no ambiente para manter as luzes acesas apenas durante o tempo necessário. Energia no Brasil é gerada a partir da força da água. Como essa também se torna um recurso escasso, em algum tempo teremos problemas com esse uso desenfreado.

Consumo

Tem outro tipo de desperdício no qual sempre penso, acarretado por uma visão míope por parte de quem fabrica e comercializa determinados produtos. Costumo ir à feira semanalmente. Gosto de folhas e frutas. Compro queijo semanalmente. Em algumas barracas, consigo que os feirantes me vendam uma quantidade menor. Em outras, eles se recusam. Acaba que uma boa parte das folhas seriam desperdiçadas, caso eu não compartilhasse a feira com minha ajudante, semanalmente. Ela sempre leva meio pé de alface, de couve, de brócolis. Existem ainda supermercados que vendem pequenas quantidades de verduras, mas o preço é maior que o de um maço inteiro. Consigo dividir nas barracas o queijo, a couve-flor, o cacho de bananas. Mas de resto, nem pensar. È quase um benefício que ofereço para a minha ajudante.
No supermercado, reflito sempre sobre o leite, que só é vendido em embalagens de um litro. Quem mora sozinho dificilmente toma um litro de leite rapidamente. Ou compra para fazer uma receita e não usa o resto. Fico pensando por que a indústria do leite é tão tradicional. Acho que se vendessem leite branco em caixinhas menores, iriam ter ainda mais consumidores. Eu parei de comprar leite, enjoei, mas algumas vezes compro para cozinhar. Uso um copo e o resto acaba ficando na geladeira até eu me lembrar de jogar fora. O mesmo acontece com o pão de forma, com pacotes grandes demais para quem vive sozinho. Ao final de uma semana já começam a estragar. E quando oferecem embalagens menores, elas custam tanto quanto, ou mais que as maiores. Lógica estranha essa do mercado.
A indústria, em geral, não acompanha as mudanças na sociedade com foco em sustentabilidade. Torna os produtos descartáveis, levando o consumidor a preferir comprar um novo a consertar um velho que deu defeito. Dia desses mandei minha máquina de lavar e meu circulador de ar para o conserto. O rapaz do orçamento veio, olhou e me falou o valor. Ficou caro, mas ele me disse que eram produtos de qualidade, que iriam funcionar ainda muito tempo a partir daqueles reparos. Se eu comprasse um novo, além de perder os velhos, iria investir em algo com um tempo de vida bem menor.
Mas como consumidores, somos levados a acreditar que vale a pena comprar um novo porque o preço é quase o mesmo, o novo tem duas funcionalidades a mais, é mais moderninho. E lá vamos nós cair no discurso dos produtos cuja obsolescência é programada, apenas para nos fazer gastar mais, comprando sempre o mesmo. Pode não parecer, mas isso é um tipo de desperdício. Dia desses inventei de trocar meu celular. Fui pesquisar na CTBC e fiquei sabendo que ela me dá um bônus de R$ 50,00 pelos meus aparelhos antigos, sejam eles de que marca forem e de que tempo forem. Achei isso bem legal, afinal quem é que não tem aparelhos antigos de celular parados em alguma gaveta? Ou máquinas fotográficas? Ou MP3? Ou computadores? Já pensou se a indústria recolhesse e ainda premiasse o consumidor? Mesmo sem premiação, só o fato de recolher aquilo que não serve mais para o consumidor já seria uma vantagem.
Imagina se a empresa de geladeira aceitasse de volta minha geladeira antiga e me desse algum desconto por ela? Ou quando eu decidir trocar meu televisor, o fabricante aceitá-lo e me oferecer algum tipo de brinde, tipo uma antena bacaninha. Ou quando eu for comprar um perfume novo, eu pudesse levar os vidros dos antigos, que poderiam ser limpos e voltar a armazenar outros perfumes. Esses produtos antigos poderiam ser reciclados e voltar para a linha de produção, de alguma maneira. Normalmente são peças de qualidade. Nessa semana, li no jornal que a madeira que está sendo retirada do Mineirão, estádio em Belo Horizonte que passa por reformas para a Copa de 2014, está sendo doada para artesãos do Estado todo, para ser aproveitada e transformada em arte. Olha que exemplo bacana. Melhor que jogar fora. Ou virar carvão.
A gente desperdiça muita coisa em termos de eletrônicos, embalagens de vidro, pilhas, baterias, roupas, sapatos. Ultimamente optei por reciclar, consertar, conservar, transformar. Gasto um pouquinho, mas evito o desperdício e aumento a vida útil das coisas. Recentemente três sapatos voltaram novos do sapateiro que mora ali na esquina. Minha máquina de lavar está funcionando que é uma maravilha. A Maria fica feliz por dividir a feira comigo. Ainda não achei solução para o leite.
Evitar o desperdício é possível. Basta a gente querer e mudar. Mas muitas vezes nos deixamos levar por argumentos mercadológicos sedutores.
Conselho aos profissionais do Marketing: em um futuro próximo, com recursos cada vez mais escassos, o canto da sereia será voltado para o consumo consciente, o aproveitamento e o fim do desperdício. Será um momento de reinvenção, eu espero.


Este post está participando do Concurso Cultural “Iniciativa Verde”, promovido pela Algar Telecom, detentora da marca CTBC. Acesse: www.ctbc.com.br/sustentavel e saiba mais.

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