Acabo de chegar do campus Santa Mônica, onde assisti à brilhante palestra do editor de fotografia da revista IstoÉ, Toni Pires. Em pouco mais de duas horas, ele tratou de temas que despertaram o interesse dos estudantes e profissionais presentes. Infelizmente, como em muitas coisas excelentes realizadas nas dependências da Universidade Federal de Uberlândia, havia poucos alunos de outras instituições de ensino, em especial de cursos de jornalismo. Foi uma pena para eles.
Entre os profissionais, destaco a presença de três fotógrafos locais - Beto Oliveira, Valter de Paula e Manoel Serafim - todos em busca de conhecimento e aprendizado, mesmo carregando uma ampla bagagem na imprensa local.
Toni Pires conseguiu fazer com que a platéria, majoritariamente jovem, ficasse atenta e quieta durante duas horas inteiras, coisa que muitas vezes nós, professores, não conseguimos. Para isso, ele contou histórias sobre como a fotografia pode contar histórias no jornalismo. Ele começou mostrando um vídeo produzido com imagens feitas para a Folha de São Paulo, onde foi editor de fotografia até 2008. Momentos captados pela câmara de profissionais competentes, que falam de um contexto, de uma história, que retrataram fatos, momentos históricos importantes, como o massacre em Carajás ou o ataque do PCC em São Paulo.
O editor de fotografia falou também sobre a redução do espaço físico nos jornais e revistas impressos, contrapondo essa realidade ao espaço sem limites dos ambientes virtuais, tanto das edições on line das publicações quanto em blogs ou páginas pessoais na internet. O mercado de trabalho, segundo ele, é amplo e cheio de oportunidades para quem sabe usar bem as duas principais ferramentas do fotojornalista: o olho e o cérebro.
As experiências compartilhadas foram muitas. Toni falou sobre a importância do editor de fotografia, que faz o processo de edição da foto, que vai desde a pauta, quando o fotógrafo recebe as informações sobre a matéria, o entrevistado e o contexto, até a edição da imagem na página, combinada ao texto e ao lay out. Ele chama essa combinação de "santíssima trindade" do jornalismo, a combinação entre imagem, texto e projeto gráfico. Infelizmente, a realidade em nossas redações é bem diferente. Fotógrafo e repórter têm olhares diferentes, sendo que cada vez mais matérias são feitas por telefone e o profissional fotográfico recebe informações genéricas sobre a imagem a captar. Neste caso, Toni Pires disse que simplesmente se escolhe uma foto para fechar uma página, mas não acontece a edição.
A oportunidade de ouvir um profissional desses, totalmente de graça, em uma universidade pública, foi possível graças à iniciativa de uma empresa privada, que patrocina uma premiação de jornalismo, a New Holland, fabricante de equipamentos agrícolas. A estratégia de comunicação corporativa, além de premiar fotógrafos no país e exterior, tem o compromisso de levar profissionais do calibre de Toni Pires para dialogar com estudantes universitários, uma contribuição para a sua formação.
Foram tantos os aprendizados, as reflexões e as conexões a partir da palestra, que seria difícil colocar tudo em um único post. Recentemente li um texto de Eugênio Bucci que me fez refletir muito acerca do jornalismo que se ensina nas faculdades e do jornalismo que se pratica nas redações. Um trabalho muitas vezes oficialesco, sem questionamento, sem crítica. Profissionais de qualidade a cidade tem. Faculdades de Jornalismo são três, todas coordenadas por professores competentes e preocupados com a formação das novas gerações. No entanto, nossa cidade carece de um bom jornalismo impresso, de qualidade, crítico, abrangente, com profissionais remurados de forma justa, com massa cinzenta, com atenção. A cidade merece. Mas para termos um jornalismo melhor, temos que estudar mais, questionar mais, criticar mais, refletir mais. Jornalismo é por si só uma atividade sujeita a falhas. O custo do papel reduziu consideravelmente o espaço físico, como disse Toni Pires, mas a tecnologia ampliou como nunca o espaço virtual.
Fazer jornalismo fotográfico, segundo Toni Pires, é um exercício do olhar, que diante da realidade social, conta histórias que vão além do que determina a pauta. É olhar para a árvore e para a floresta. É saber que o momento do clique é apenas uma pequena parte do trabalho, que envolve pesquisa, busca de informações, leitura, troca, arquivamento, tratamento de imagens, indexação. Redes sociais servem para muito mais coisas além de pedir "me adiciona aí...". Servem para buscar informações, trocar conhecimentos, pesquisar entrevistados, entender o contexto.
Toni Pires falou também sobre a digitalização e o tratamento das imagens, dizendo que a manipulação está longe da realidade das grandes redações, onde a ética e a seriedade dos profissionais é levada a sério. Falou também do tempo de maturação profissional. Segundo ele, um fotógrafo leva pelo menos dez anos para treinar o olhar, especializar-se, dominar completamente a técnica, os equipamentos e as novas tecnologias. Para quem busca especialização ou conhecimentos básicos, ele indica usar o conhecimento que está disponível gratuitamente na internet. Sites especializados, cursos on line, livros, imagens. E tudo de graça, bastando o domínio do idioma inglês e a inteligência para encontrar material de qualidade.
Infelizmente não fiz anotações sobre a palestra, mas a frase que ficou mais forte para mim foi: "os dois instrumentos de trabalho que o fotojornalista precisa são o olho e o cérebro. Pensem nisso."
2 comentários:
Adriana, queria muito ter ido na palestra, mas o seu resumo sobre ela já vale muito, ainda mais trazendo aspectos sobre o palestrante, porém com seu ponto de vista que é sempre apurado.
Espero ter outra oportunidade.
Maurity Cazarotti
RP e PP
A palestra foi muito boa, e você fez um resumo excelente das melhores partes do diálogo com Toni Pires! Infelizmente, estava mesmo muito vazia, e muita gente perdeu essa oportunidade interessantíssima!
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