Bom demais da conta!

Fonte: www.mulherbeleza.com.br 
Verdurinha verdinha da cor dos meus zóio...

Dia desses li no informativo Mundo do Marketing a respeito de uma pesquisa que indicava a satisfação do consumidor com uma série de experiências de atendimento. A campeã da satisfação foi a feira livre, com quase 60% de menções positivas. Os motivos apontados pelos entrevistados foi a personalização do atendimento, a simplicidade das transações e a falta de erros operacionais. Simples assim. Do outro lado do ranking, bancos, operadoras de telefonia e supermercados, considerados burocráticos, massificados e sujeitos a muitas falhas processuais.
Achei a pesquisa muito interessante e reflete, ao menos, a minha realidade. Em 2006, mudei-me para o interior de Goiás. Uma pequena cidade, de 35 mil habitantes, chamada Minaçu. Semanalmente era realizada uma feira do produtor, onde se comprava direto de quem plantava. Frutas, verduras, legumes, doces, tudo fresquinho e gostoso. Aos domingos acontecia a feira normal, mas muita coisa vinha de Goiânia e o frescor não era o mesmo.
Morei um ano em Minaçu. Ia à feira frequentemente. Conheci pessoas, experimentei novos sabores. Quando voltei a Uberlândia, lembrei-me que a dois quarteirões da minha casa tem uma feira enorme aos sábados. Comecei a frequentá-la quase que por curiosidade, para comparar com o que encontrava no supermercado. Literalmente, fui conquistada.
Há cinco anos, faço feira regulamente. Com o tempo, fui conhecendo os feirantes, descobrindo onde encontraria as frutas e verduras que mais gosto, com qualidade e bom preço. Boa parte dos feirantes dos quais compro regulamente me trata pelo nome, sabe que tenho cachorros e que moro no bairro. Embora me vendam semanalmente, nunca me empurram nada. Há semanas que levo mais itens, semanas que levo menos. Eles nunca insistem. Sabem que eu voltarei na semana seguinte. E quando às vezes viajo e não compareço, eles perguntam se está tudo bem, se viajei.
Vi meninos virando homens na feira, como o rapazote que ajudava na banca dos queijos. Ele sempre puxava um dedo de prosa, contava seus causos, ria dos meus. Até que um dia completou 18 anos, conseguiu um emprego de carteira assinada e sumiu. Acompanho a luta de uma feirante com a coluna machucada. Agora ela está esperando bebê e toda semana tem histórias para contar. Essa mulher é fenomenal, ela sabe o nome de todos os que passam pela sua banca. E nem precisa anotar! Santa inveja que tenho dela. Tem ainda aquele que sempre repete o mesmo bordão: "Verdurinha verdinha da cor dos meu zóio..." Pena que a palavra escrita não transmite sonoridade, para que eu possa explicar como ele canta esse refrão.
Tem ainda o tiozinho das folhas, o moço das ervas e temperos, o rapaz que moe o café na hora, aquele onde compro arroz integral e feijão fresquinho. Nos seis ou sete quarteirões pelos quais a feira se estica, é possível encontrar de tudo. O chão não é limpo, o cheiro de pastéis fritos se dissipa no ar. Bancas de bugigangas vindas do Paraguai ou da China intercalam-se com as frutas, verduras, peixes. Nos dias de chuva não se tem para onde correr. Nos de sol forte, haja chapéu.
Mais do que o atendimento personalizado, outra coisa que adoro na feira é o encontro com meus vizinhos. Vejo muitos deles, alguns dos quais nem sei o nome, mas com quem proseio sempre, entre alfaces, rúculas e maçãs. Encontros rápidos, onde trocamos palavras gentis. Vejo pessoas da igreja também, colegas de faculdade que nem sabia que eram meus vizinhos. 
Além de ser mais saudável, fazer feira sai mais barato que supermercado. O preço dos produtos é similar, mas deixo de comprar aquelas coisas das quais não preciso, mas que são expostas em prateleiras e corredores de supermercados, sempre tão atrativos. Evito as tentações consumistas, não preciso pegar o carro, nem sacolas plásticas, nem aumentar a conta do meu cartão de crédito. Taí uma das coisas que aprendi e gosto de fazer. Novos hábitos para uma nova mulher, que nasce a cada dia. 

Um comentário:

Lau Santangelo disse...

Que delícia de texto amiga!
Como sempre, é gostoso passear pelas suas palavras tão cuidadosamente ajeitadas uma após a outra, com algumas pausas entre as vírgulas pelo caminho, até chegar a um ponto final. Momento este de pausa para uma rápida reflexão, porque o parágrafo seguinte nos convida, insistentemente, a continuar a nossa viagem pelas letrinhas que aos poucos vão nos revelando um "bocadinho" da sua essência
Bjo gde. Lau Santangelo