Está em cartaz em Uberlândia a peça teatral "Quem não lê: mal ouve, mal fala, mal vê", no teatro Rondon Pacheco. Fui assistir ontem à noite. Vale muito a pena. Nós professores estamos sempre criticando os jovens. Estes, por sua vez, não entendem seus professores ou conteúdos pré-formatados em aulas de 50 minutos. Nenhum dos lados tira um tempo para refletir sobre as diferenças e similaridades que permitiriam a construção de um processo de aprendizagem mais feliz.
A peça faz parte de um projeto chamado Literatudo, que tem como objetivo estimular os jovens a adquirirem o hábito da leitura. Ele aconteceu na Escola Bueno Brandão, na região central da cidade, que abriga o velho teatro Rondon Pacheco. Alunos da própria escola são os atores principais, em um elenco que se movimenta de maneira dinâmica, tanto pelo palco, quanto pelo texto.
O cenário é uma escola pública qualquer, de uma cidade qualquer, com um grupo de jovens qualquer e professores quaisquer. Ninguém tem nome. Os alunos são tratados por números e os professores por suas disciplinas (Matemática, Literatura, Química e o Diretor). Eles protagonizam diálogos com os alunos, que passam por temas como drogas, sexo, bullying, futuro, carreira, estudo, família.
Os professores da peça são mais humanos que os da vida real. Têm problemas, não conseguem se impor em classe, algumas vezes são alvo de fofocas. Trabalham pesado, enfrentam indisciplina, sofrem com o jeito de ser dos alunos. Mas a diferença é que eles reagem e se propõem a alterar uma realidade com a qual não concordam.
Em determinado ponto da peça, os alunos também se mobilizam para melhorar a vida escolar. Resolvem criar um clube de leitura e até o mais difícil e indisciplinado, ao fim do processo, declama Carlos Drummond de Andrade. Adorei essa cena!
O que acontece no palco e em algumas salas de aula por aí é bastante semelhante. Mas no palco, professores descem do pedestal e alunos deixam de lado as pedras. Ambos se propõem a mudar, escutar o outro, refletir sobre as realidades diferentes. Ambos se concentram naquilo que pode ser feito apenas com mudança de atitude.
Um dos exemplos que mais gostei foi o do Professor de Matemática, vivido por um professor na vida real, do curso de Administração da UFU (meu amigo Henrique Geraldo Rodrigues). Ao longo da peça, ele quase chora ao se ver rejeitado pelos alunos. Depois resolve se adequar ao que eles querem e cai no ridículo. Em um terceiro movimento, muda de postura e desafia sua turma a tentar algo completamente novo. Além de ser o personagem mais engraçado da peça, o Professor de Matemática é muito familiar para nós todos. É aquele que nunca muda. Cujo conteúdo não se inova. Chato, cansativo. Até que ele resolve ouvir seus alunos e os conselhos da Professora de Química.
Vale muito a pena assistir à peça. Quem é professor irá identificar-se bastante. Quem é aluno, vai enxergar uma oportunidade de mudar de postura. Quem é pai, mãe, tio, avó de estudante, vai entender um pouco melhor as aflições pelas quais passam os profissionais de educação hoje em dia.
A divulgação não está tão boa. Vi entrevistas na rádio Cultura HD e um texto no Megaminas. O Correio vem dando notinhas na coluna de agenda cultural, quando deveria fazer uma matéria de capa, de tão bacana que é o trabalho. Professores, do ensino básico ao superior, deveriam todos assistir ao espetáculo e repensarem seus papéis.
Os alunos do colégio Bueno Brandão trabalharam voluntariamente, fora do horário de aula. Os artistas envolvidos fazem parte do projeto. Poucas empresa locais apoiaram, depois reclamam que as pessoas chegam ao mercado de trabalho muito desqualificadas. Pois é... "Quem não lê: mal ouve, mal fala, mal vê". Tomo a liberdade de concluir: mal pensa e mal vota!
A peça fica em cartaz até 16 de setembro, no Teatro Rondon Pacheco, sempre às 19h30. Entrada franca.
Um comentário:
Dri, tá difícil conviver com o povo atualmente, viu!
Ninguém quer saber de ler. De estudar, então....
Sinto tanta falta de vocês....
Mas vai mudar... sinto a presença de Deus operando em minha vida... tá melhorando, apesar de estar tudo bagunçado.
Lindo texto! Adorei.
Beijos
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