2 de jun. de 2010

É preciso investir em cultura!

Investir em cultura é um bom caminho para uma empresa que queira efetivamente estreitar os laços com a comunidade, fortalecer sua imagem e reputação corporativas. Tanto que existem leis de renúncia fiscal para organizações que queiram apoiar a realização de espetáculos nas mais diversas modalidades artísticas, incluindo música, teatro, cinema, artes plásticas, dança, etc. Os recursos também podem ser destinados a projetos culturais diversos.
As leis de incentivo, no entanto, envolvem uma contrapartida da empresa que delas se beneficia. Isso quer dizer que, em alguns casos,o governo (municipal, estadual ou federal) entra com uma parte dos recursos e a empresa tem que entrar com outra. Além disso, projetos que se beneficiam de renúncia fiscal precisam oferecer acesso gratuito e amplo à população, para que a arte possa ser democratizada e esteja acessível a diferentes faixas da sociedade. Não conheço bem os mecanismos, mas creio que funcionem assim.
Nossa cidade tem muitas empresas grandes cujo recolhimento de impostos provavelmente é suficiente para investir em cultura por meio das leis de incentivo fiscais. Por que será que esse investimento ainda não é feito de forma maciça? Exceto pela CTBC, que há mais de dez anos promove espetáculos e projetos culturais utilizando-se desse benefício, o que se vê na cidade são ações esporádicas, patrocínios pontuais a peças e eventos, que são bastante positivos, mas talvez não sejam suficientes. O grupo Martins também vem investindo, em especial possibilitando a gravação de CDs, como o Parangolé, do grupo Encantar e o Daqui, do Quarteto Vagamundo. Além disso, apoiam um projeto de música instrumental, coordenado pela musicista Cora Pavan Caparelli, fundadora do Conservartório Musical da cidade.
Raras são as iniciativas como a apresentação da Orquestra Filarmônica de Minas Gerais, realizada neste fim de semana com patrocínio da CTBC. O Festival de Dança do Triângulo é uma sombra do que foi e a Cia. de Dança Balé de Rua (foto) faz mais sucesso lá fora do que aqui, profissional e financeiramente falando.
Pesquisando na internet descobri que embora tenham projetos aprovados na lei estadual e nacional de incentivo à cultura, receberam apoio da Usiminas para a construção de sua sede, transformada em Centro Cultural. Lembro-me que quando eles ainda estava começando, a CTBC foi a primeira a apoiar, permitindo que os bailarinos tivesse um salário e carteira assinada, muitos pela primeira vez em suas vidas. Na época eu era assessora de imprensa da empresa e lembro-me da emoção do Fenrando Narduchi ao falar a respeito.
Não tenho dados, mas creio que boa parte das empresas locais são elegíveis a usar recursos da Lei Rouanet (federal) e das leis estuduais (ICMS) e municipais (ISS e IPTU) de cultura. Talvez não o façam por desconhecimento, falta de interesse, preocupação com os investimentos em contrapartida, entre vários outros motivos. Definitivamente, não é pela falta de bons projetos. Já assisti a uma montagem de "O Guarani" no teatro Rondon Pacheco. "Simbad, o Marinheiro" é um primor do teatro infantil. Artistas plásticos como Assis Guimarães e Charles Chaim enchem nossos olhos. Isso para citar apenas alguns.
O teatro que está sendo construído na avenida Rondon Pacheco é uma prova do quanto as empresas investem pouco em cultura. Ele está em obras já há alguns anos. Quando finalmente estiver pronto, Uberlândia poderá receber espetáculos teatrais e musicais que exigem um espaço mais adequado. Poderá também oferecer para os artistas locais um espaço mais adequado para sua arte. Até onde sei, o teatro está sendo construído com recursos de leis de incentivo. Diversas empresas tem feito doações, mas ainda falta muita coisa. Falta a sociedade se mobilizar, as empresas se organizarem, buscarem informações sobre como podem transformar uma parte de seus impostos devidos em patrimônio tangível (o teatro) e intangível (o desenvolvimento dos artistas) de nossa cidade.
Cidadãos que participam de eventos culturais desenvolvem várias características que precisamos fortalecer em nome de uma sociedade mais justa. Desenvolvem o prazer pela arte, o respeito pelo outro enquanto ele se apresenta, o desafio intelectual de interpretar e ressignificar uma obra. A arte ajuda a formar pessoas melhores, mais sensíveis e atentas ao que acontece em volta.
Mas para que possa manter-se, a arte precisa de apoio, de patrocínio, de apoio público e privado para o financiamento de suas despesas. Uma empresa que investe em arte está investindo em uma nova sociedade, com pessoas mais críticas, mais criativas, mais abertas a busca de soluções. E essas pessoas vão trabalhar nessas empresas, vão consumir produtos dessas empresas.
Pouca gente sabe, mas em Uberlândia existem profissionais especializados em orientar empresas para a gestão e desenvolvimento de projetos culturais, de modo que possam ser adequados às leis de incentivo. Uma delas é a Moinho Cultural, que atende e orienta a CTBC. O blog da empresa está um pouco desatualizado, mas permite ver um pouco do que é o trabalho: http://moinhocultural.blogspot.com/
Se você é empresário, procure informar-se e ver como pode participar. Se você é gestor de comunicação em alguma empresa, mostre para seus líderes o quanto o investimento em cultura contribui para melhorar a imagem e fortalecer a reputação corporativa.
É um investimento onde todos ganham e onde precisamos aprender a enxergar um outro tipo de lucro, intangível, que agrega um grande valor à marca. Uma sociedade melhor.


Foto do teatro em obras extraída do site http://www.skyscrapercity.com/showthread.php?p=46226933  
Foto da Cia.de Dança Balé de Rua extraída do blog http://jornalismodebolso.posterous.com/

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