Belarmina foi mimada desde pequena. Todas as suas vontades sempre foram feitas. Bem tratada, estava sempre bonita, cheirosa, com cuidados dignos de uma princesa. Tinha uma casa bonita, brinquedos, pessoas que gostavam dela e lhe faziam todas as vontades. Belarmina tinha saúde, comia do bom e do melhor, tinha roupas confortáveis, viajava, viveu experiências muito interessantes em seus poucos anos de vida.
No entanto, apesar dos mimos, creceu brava, agressiva, ranzinza, fazendo muito barulho sempre que qualquer estranho tentava se aproximar. Ela tinha poucos afetos, gostava verdadeiramente de poucas pessoas. Ganhar sua confiança dependia muito de quem tentava se aproximar porque por trás daquela fachada barulhenta, escondia-se alguém meiga e carinhosa. O duro era passar pelas barreiras que ela levantava.
Muitas pessoas não gostavam de Belarmina. Na sua própria família, havia quem dissesse que ela era insuportável, chata e difícil de conviver. Outros a achavam brava. Outros a toleravam. Mas a vida de Belarmina era muito boa, ela tinha amigos verdadeiros, pessoas que a amavam muito e faziam tudo por ela. Vivia com todas as mordomias que alguém podia sonhar e levava a vida que pediu para Deus.
Pacheco apareceu um dia na cidade, meio perdido, doente, sem saber direito quem era. Foi acolhido por uma senhora, que providenciou os primeiros socorros. Ele foi levado para uma espécie de hospital, onde foi acolhido por profissionais competentes, que diagnosticaram suas doenças e trataram delas com carinho. Ninguém sabe de onde Pacheco veio, nem onde morava antes, nem porque foi encontrado vagando, com fome, com sede e sem família. Sua pele surrada, queimada pelo sol e marcada pela picada de bichos. Os olhos cansados, feridos pelo sol e pela chuva que deve ter pego sem se lembrar. Nem se sabe seu verdadeiro nome, foi apelidado de Pacheco porque ninguém sabia como ele se chamava.
Uma vez acolhido, cuidaram de Pacheco com respeito. Pela primeira vez em muito tempo, alguém se preocupou com sua saúde, com sua alimentação, em lhe dar um abrigo. Aos poucos a fraqueza foi cedendo lugar para um pouco de esperança. As pessoas que acolheram o pobre Pacheco deram-lhe todo o suporte, mas chegou o momento em que ele precisava partir, arrumar um lugar para morar e recuperar plenamente a saúde.
Foi aí que as vidas de Belarmina e Pacheco se cruzaram. Ele foi morar na casa dela, apesar dos muitos receios. Afinal, ela era mimada, brava, ciumenta. Será que aceitaria um estranho em seu lar? Antes de continuar lendo e saber o fim dessa história, clique aqui e assista ao video. Depois volte e termine de ler.
Pois é... Agora você sabe que Belarmina e Pacheco são dois cachorros. Ela é a dachshund marrom. Ele o shitzu cujo pelo ainda precisa nascer. Eles são cachorros e me deram uma lição interessante nessa primeira semana de convivência. Muitas vezes, rotulamos pelas aparências. Sim, ela é mimada e brava. Mas acolheu o Pacheco, abrindo mão de seu espaço e de sua braveza. Essas imagens foram feitas no segundo dia depois que ele veio para cá. Belarmina não se importou com o pelo caído, os olhos machucados. No começo, estranhou ver aquele carinha invadindo seu território, mas rapidamente, ela o chamou para brincar.
Pacheco levou algumas broncas de Belarmina no primeiro dia, mas ele nem se tocou. Depois de tudo que deve ter passado para sobreviver, uma cachorra brava é fichinha. Ele não desistiu. Foi se aproximando devagar, com meiguice, até que venceu a resistência dela. Pacheco foi encontrado no Parque do Sabiá, em Uberlândia, em uma situação deplorável. Foi acolhido por uma pessoa que o levou até a clínica veterinária Bichos e Caprichos, onde foi cuidado pela equipe de veterinários de lá. Quando precisou de um lar, contrariando tudo o que me disseram sobre ter mais um cachorro, me ofereci para adotá-lo.
Pacheco e Belarmina tem potencial para serem grandes amigos. Como são cachorros, não tem a mínima idéia do que são estereótipos e brincam naturalmente, como um cachorro faz com o outro. Eles cheiram bum bum, comem ração, roem ossos, disputam atenção do mesmo jeito. Não importa se uma teve uma vida privilegiada e o outro lutou para sobreviver. Sem preconceitos, receios ou neuras, eles vivem o hoje, a alegria de ser cachorro e brincar de pega-pega entre o puff e o sofá da sala.
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