Ele fazia medicina e morava na casa do estudante. Como forma de pagar pela moradia, trabalhava no restaurante. Se bem me lembro, existia uma escala. Eles vendiam tickets, serviam outros estudantes, cuidavam da casa. Nas idas e vindas da fila, a gente acabava se aproximando. Sorrisos, conversas e até mesmo paqueras. Éramos jovens, estudantes, idealistas, morávamos longe de casa, sempre sem grana.
Eu fazia jornalismo e morava em pensionatos onde não se oferecia refeição. Comprava os tickets do RU mensalmente. Saía da faculdade descia do ponto de ônibus ali perto. Acabava de chegar a pé. O almoço era simples, bandeijão, sem nenhuma sofisticação. A gente passava por ali, almoçava nos bancos compridos, alguns novos, outros velhos. Éramos, em geral, jovens de classe média ou mesmo baixa. Almoçar naquele lugar era barato e era também espaço de socialização. Almoço em restaurante legal, só quando a família ia visitar. Aí a gente aproveitava!
Com o tempo, descobri que aquele moço era de uma cidade vizinha à minha. Uma vez pegamos o mesmo ônibus e começamos a conversar para valer. Ao longo dos anos de faculdade, nos tornamos amigos. Eu me formei primeiro. Ele estava lá no dia da minha formatura. Voltei para minha cidade. Trocamos cartas (que guardo até hoje). Nossa amizade ficou mais sólida a cada dia.
Ele se formou alguns anos depois de mim. Estive presente. Com o tempo, conhecemos a família um do outro, acompanhamos a carreira, as amizades, os amores, os caminhos. A gente sempre andou em uma velocidade parecida. Hoje ele trabalha em um grande hospital, tem um bom relacionamento com uma pessoa maravilhosa, cuida de dois cachorros. Eu sou professora, abri uma empresa, tenho dois cachorros. Nossos bichos são até da mesma raça.
O tempo passou e sempre mantivemos contato. Uma amizade sincera, honesta, próxima. Vivemos alegrias e tristezas. Ganhos e perdas. Com nosso trabalho, conquistamos uma vida melhor. Mesmo longe, estive ao lado dele em momentos muito especiais. Compartilhamos segredos, dores, alegrias, confidenciamos amores. Ouvir a voz dele no telefone é sempre uma doce surpresa.
Há vinte anos, quando essa história começou, éramos ambos estudantes, pobres, com muita vontade de construir uma vida melhor. A gente se divertia, mas o primeiro compromisso era com a faculdade, que a gente via como uma forma de progredir. Estudávamos muito, estudamos até hoje.
Naquele tempo, se alguém nos dissesse que faríamos as conquistas que fizemos, que chegaríamos até aqui, talvez a gente não acreditasse. Talvez fosse difícil imaginar que essa amizade ultrapassasse duas décadas de existência.
Hoje é dia do aniversário desse grande amigo. Dia em que sempre nos falamos, religiosamente, ao longo deste tempo todo. Poucas vezes estivemos juntos com o passar do tempo, mas sempre estivemos juntos.
Eu te amo, meu amigo. Você sabe de nossa história, é personagem dela, me ajuda a escrever. Este post é minha maneira de te desejar todas as coisas boas que você merece e a vida com certeza trará. Feliz Aniversário!
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