Foi publicado no dia 13 de janeiro, no site do Inep - Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira - o índice geral de cursos das instituições de ensino superior brasileiras (http://www.inep.gov.br/areaigc/). De acordo com definição que consta no próprio site, "o Índice Geral de Cursos da Instituição (IGC) é um indicador de qualidade de instituições de educação superior, que considera, em sua composição, a qualidade dos cursos de graduação e de pós-graduação (mestrado e doutorado)".
Com muito orgulho, vi que a instituição onde dou aula (ESAMC) e a instituição onde faço mestrado (UFU) foram avaliadas com o conceito 4 (em uma escala que vai de 1 a 5).
Feito a partir de um cálculo bastante complexo, a "nota" pode servir como um indicador da qualidade do ensino superior no Brasil, mas infelizmente, muitas vezes se transforma em um ranking que avalia o melhor e o pior, contribuindo para a mercantilização do ensino. O índice deveria servir como um desafio para o corpo docente e discente, para que todos busquemos a melhoria contínua naquilo que fazemos. Quer nosso papel seja o de educador ou o de educando.
Há dois anos comecei a fazer mestrado e também a dar aulas. Aos poucos, passei a entender melhor o funcionamento da educação superior no Brasil. O país possui ainda um baixo número de doutores e mestres, carreiras que exigem muita dedicação. Ser pesquisador é uma profissão como outra qualquer, com a diferença de que estamos desenvolvendo conhecimento e formando cidadãos. A remuneração dos professores, em especial os da rede privada, é baixa comparado a nossa responsabilidade. A convivência com uma população jovem cada vez com valores mais diferentes dos nossos, exige não apenas conhecimento em nossa área de atuação, mas também uma grande habilidade de gerenciamento de conflitos. Ano passado, vimos um aluno que assassinou um professor e outro que quebrou os braços de uma professora.
Neste cenário, embora os indices de qualidade sejam bem vindos, creio que a reflexão tem que ser mais profunda. Que formação damos aos nossos jovens? Que tipo de exemplo somos em sala de aula? De que maneira procuramos nos manter ativos intelectualmente? Quanto tempo temos para investir em pesquisa e extensão se muitos de nós trabalhamos nos três períodos em busca de uma remuneração adequada às nossas necessidades? De que maneira somos tratados pela sociedade quando respondemos: sou professor!
Normalmente, quando deixo de sair com um amigo porque preciso estudar, escuto coisas como "coitada", ou "deixa para estudar depois", ou "você estuda demais". Quando trabalhava como executiva em uma multinacional e deixava de sair porque estava assoberbada de trabalho, ouvia coisas do tipo "Nossa, como ela é profissional!". No mínimo, posturas paradoxais daqueles que vêem na educação apenas um pedaço de papel onde existe um título impresso.
Educação é tudo. E nunca poderemos nos esquecer disso. Por isso retomo a divulgação dos indicadores do Inep. O jornal Correio de hoje trouxe uma matéria dizendo que a UFU ficou apenas com nota 4 (os conceitos variam de 1 a 5). Acho uma nota 4 extremamente relevante. A ESAMC, onde leciono, também obteve este indicador. Poderia ser um 5? Com certeza. Mas para isso, precisamos trabalhar juntos: professores, doutores, graduandos, mestrandos e doutorandos. Precisamos produzir mais, pesquisar mais, aproximar os campos empresarial e acadêmico, derrubando muros. Preconceitos existem dos dois lados. O mercado desvaloriza o conhecimento acadêmico. A academia menospreza o conhecimento produzido pelas empresas.
Fiz um resumo dos dados divulgados pelo Inep, para quem tiver interesse. No primeiro quadro, o Indice Geral dos Cursos Superiores oferecidos em Uberlândia. No segundo, separadamente, a nota do Enade (comparação entre entrandes e concluintes dos cursos avaliados) e da avaliação institucional feita pelo MEC. Temos muita coisa boa sendo produzida em nossas universidades, tanto na pública quanto nas privadas. E temos muito que melhorar. Por isso me dedico tanto em ser uma boa professora e em fazer o mestrado de maneira aprofundada. Para mim, estudar é profissão.
Um bom sistema de educação superior depende de gente comprometida, educada e que ame o que faz. Caso contrário, continuaremos com índices medianos como os que estão refletidos abaixo, em sua maioria.
Indice Geral de Cursos - Universidades, Faculdades e Centros Universitários de Uberlândia
Detalhamento dos conceitos de cursos (ENADE e avaliação do MEC).
Para ver em tamanho maior, clique sobre a figura.
Um comentário:
Adriana, fez um belo levantamento e mais uma vez vejo um texto que anda junto com a realidade. Acho necessário que todo aluno leia todas as palavras escritas nesse artigo, não só para entender o que é o índice de "classificação" dessas instituições, mas para que entendam a parte humana desse artigo, que é a que diz sobre o entendimento do lado do professor, não só como parte de um corpo docente, mas como gente, que não para de estudar e que hora é aluno e hora é mestre. Precisamos entender cada vez mais o que se passa com esse profissional que está em escassez. Nota 1000 Dri! Bjo
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