Fonte: www.ufu.br |
Sempre ouvimos críticas à universidade pública. Críticas ao sistema de ingresso, ao que mede a produtividade dos professores, à qualidade de ensino e métodos avaliativos. Críticas a professores que trabalham como consultores mesmo tendo contratos de dedicação exclusiva, que se envolvem em projetos acadêmicos onde não se vislumbra, no curto prazo, retorno para os investimentos públicos ali depositados. Poucas vezes ouvimos elogios e é isso que quero fazer aqui.
Ao longo dos 27 meses que passei estudando na UFU, gratuitamente, percebi que algumas dessas críticas são verdadeiras sim, mas existem muito mais coisas positivas que negativas em um programa de Mestrado. Por mais que os projetos de pesquisa possam restringir-se aos muros da academia - gerando um conhecimento que poderá ou não tornar-se útil - ali dentro se formam cidadãos mais críticos, reflexivos, questionadores. Se formam futuros professores e pesquisadores que enxergam na atividade acadêmica muito mais que um emprego burocrático. Enxergam a contribuição que poderão dar para a formação de muitos jovens.
Vemos um ambiente acadêmico, quer na faculdade pública, quer na privada, marcado por jovens que chegam cada vez mais despreparados. Algumas vezes, o caminho deles se cruza com o de professores também despreparados. Outras, com professores que estimulam a leitura, a discussão, o exercício da construção de sentidos que vai além da superfície e leva ao pensamento autônomo. Em um programa de Mestrado, não estudamos para formar trabalhadores. Estudamos para formar cidadãos.
Quando iniciei o Mestrado, em 2009, eu era fruto de uma vida corporativa marcada pela visão instrumental da profissão de Comunicação. Poucas vezes parei e refleti sobre os processos organizacionais e seu impacto sobre a vida das pessoas. Ao longo das aulas, comecei a perceber a mim mesma de uma forma diferente, mais crítica. No processo da dissertação, muito solitário, comecei a tecer minha própria colcha de sentidos em torno de um tema. Aprendi a relacionar conteúdos, a analisar dados, a considerar diferentes perspectivas, a escrever de uma maneira diferente.
Em meu caminho de aprendizado, a figura do meu orientador foi fundamental. Funcionário público, professor de uma universidade federal, quantas vezes me atendeu em finais de semana, além do horário, lendo trabalhos, direcionando caminhos, aplacando minhas angústicas e inseguranças. Com ele entendi o que significa orientar um trabalho acadêmico. Envolve mais que dar uma lida ou algumas idéias de maneira entrecortada, em conversas de corredor. Orientar envolve dedicar-se, ser co-autor, estimular a curiosidade, desafiar, criticar, cobrar, provocar, acalmar, incentivar.
Em toda profissão e em todo ambiente acadêmico é possível encontrar bons e maus profissionais. Tive a sorte (ou seria o privilégio) de estar entre os bons, de ser orientada por um dos melhores. Com o professor Valdir Valadão aprendi muito mais que Administração. Aprendi novamente a pensar, a ler, a pesquisar, a relacionar conteúdos, a resgatar todo o potencial intelectual que sempre fez parte de minha história. Aprendi que não preciso me submeter a certas coisas e que posso tomar diferentes decisões como professora e pesquisadora, mas elas devem ser embasadas.
Espero que muitos outros alunos que participam dos programas de Mestrado da UFU saibam tirar proveito dessa oportunidade. É uma jornada muitas vezes difícil, com cobranças, sobrecarga, falta de recursos financeiros, falta de tempo. Na reta final, chega a ser uma jornada marcada pelo desespero. Mas é uma jornada que nos faz melhores, em todos os sentidos. E eu, que já adorava a nossa Universidade Federal de Uberlândia, agora sou uma de suas maiores defensoras. Um lugar onde a gente exercita a capacidade intelectual e, ao mesmo tempo, se torna uma pessoa melhor.
Um comentário:
Oi Drika. Parabéns pelo texto reflexivo e pela conquista na área acadêmica. Bjo gde.
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