Quem viveu os anos 80 como adolescente ou adulto vai lembrar-se de duas belas canções de uma cearense que se apresentou na noite de sábado em Uberlândia: "Foi Deus quem fez você" e "Mulher nova, bonta e carinhosa, faz o homem gemer sem sentir dor". Estou falando de Amelinha, cantora que fez grande sucesso nos anos 80, alguns nos anos 90 e praticamente saiu do cenário nos anos 2000.
Cerca de 300 pessoas assistiram ao espetáculo que Amelinha trouxe para Uberlândia no sábado, 3 de setembro. Um show no Teatro Rondon Pacheco, aberto pelos acordes tão familiares de "Foi Deus...". Uma canção tão intensa e maravilhosa que levou muitos dos presentes para recônditos de um passado onde música brasileira era rica em letra, em melodia e em intérpretes que consagravam versos como "Foi Deus que fez a gente, somente para amar, só para amar" ou "A mulher tem na face dois brilhantes, condutores fiéis do seu destino, quem não ama o sorriso feminino, desconhece a poesia de Cervantes"... Infelizmente muita gente nem sabe se Cervantes é de comer ou de passar no cabelo...
A voz de Amelinha talvez não seja exatamente a mesma dos anos 80, mas ela tem uma técnica vocal fantástica. Foi capaz de mudar seu tom ao longo do show, driblando as dificuldades de sua própria força, além das falhas do sistema de som do nosso teatro municipal.
O público viajou na voz alegre, cantou junto várias canções, como Frevo Mulher. Para mim, o ponto alto foi a clássica "Mulher Nova, Bonita e Carinhosa..." que todos sabíamos de cor. A música fala de mulheres como Helena, Roxana e Maria Bonita, que seduziram heróis e tornaram homens bravios seus escravos para sempre. Uma letra belíssima e uma interpretação primorosa, contida para preservar a voz. Ela também fez uma homenagem a músicos como Caetano Veloso, com um trecho de "Alegria, Alegria" e Chico Buarque, com "A Banda". O público cantou, bateu palma, dançou em suas poltronas.
Amelinha é uma bela mulher. Canta, dança, dialoga com o público, emociona, encanta. Ao vê-la no palco, após tantos anos, imaginei cantoras do passado, como Maísa, que chegou ao auge e depois ao fundo do poço, mas nunca foi esquecida. Assim é com Amelinha. Enquanto a geração que foi jovem na década de 80 estiver por aqui, haverá público para suas músicas, pessoas que vão ao teatro para ouví-la cantar.
Entristeceu-me a cobertura que o único jornal da cidade deu ao espetáculo. Duas linhas numa página interna, dedicada à programação cultural da cidade. Nenhuma matéria, nenhuma foto, nenhum texto falando de suas clássicas canções, da compositora maravilhosa, cuja voz forte foi um símbolo da mulher brasileira durante uma época da história do nosso país. Na capa do jornal, neste mesmo dia, espaço foi dado para uma ex-BBB que lançava um livro na cidade. Na verdade, o jornal fez uma edição acertada, afinal, as novas gerações reconhecem nos personagens do programa da Globo algo muito mais interessante de se ler do que o perfil de uma cantora ícone de uma época. Coisa de gente antiga.
Por outro lado, a fantástica Rádio Universitária passou a tarde de sábado divulgando o show e nos fazendo relembrar as canções de Amelinha, muitas das quais ela não cantou no show, uma pequena seleção de seu repertório. O desinteresse do jornal e a cobertura da rádio Universitária me fazem pensar sobre a vida que se leva por aqui, onde o espaço midiático pertence a quem agrada a uma maioria inculta, e nem sempre bela. Cada cidade tem o povo que merece.
Para quem quiser matar saudade, um trechinho de Foi Deus Quem Fez Você. Clique aqui para ver.
Um comentário:
Parabéns por esta matéria, concordo com você a Amelinha é um ÍCONE da musica brasileira... mais infelismente o que é bom de verdade nem sempre tem valor.
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