Ei, você que já passou dos 25, 30 anos... Quando foi a última vez que você brincou? Sabe brincadeira de criança, daquelas que a gente queria que o tempo não passasse, que a mãe não chamasse para tomar banho, que a chuva nunca viesse?
Não falo de brincadeira com colegas de trabalho, nem daquelas que se faz com os filhos em um fim de semana. Mas de brincar com você mesmo, pelo simples prazer da brincadeira, de sentir o vento no rosto, de rir sozinho por pura diversão, de fazer uma festa onde você é o principal convidado.
Hoje eu brinquei como não fazia há muito tempo. Sempre que passeio com meus cachorros perto do campus Santa Mônica, vejo três balanços em uma pracinha aconchegante, construída bem no fundo do campus. Volta e meia vejo jovens estudantes se balançando ali. E a vontade de ocupar o lugar deles bateu um dia. A vontade crescia como tinha que ser...
Depois de muito ensaiar, peguei meus cachorros e fui. Chegou a minha vez de brincar. Entrei no campus e procurei a entrada para meu parque de diversões de gente grande. Achei rapidinho e lá estavam eles. Os três balanços. Ninguém por perto. Soltei Belarmina e Pacheco e sentei-me no mais alto deles. Comecei meio com medo. Peguei impulso e, de repente, entrei na máquina do tempo.
Aos poucos, na medida em que tomava impulso, Adriana Sousa desaparecia, se desfazia no pêndulo do balanço. No lugar dela, voltava aos poucos o Nenzico, pegando impulso e voando alto em seu balanço, quase tocando o céu.
Nem sei quanto tempo fiquei ali, me balançando, cada vez mais alto, cada vez mais viajando para uma infância que, apesar de tudo, foi feliz. Naquele momento, Nenzico quis fortemente a companhia de Didi, Dedé e Bazinho, minhas irmãs queridas, companheiras de tantas brincadeiras. A gente era um bando de criança feliz, feliz a cantar.
A máquina do tempo movida pelas correntes do balanço me levou a lembranças de um tempo bom, em que a gente brinca pelo prazer, sem olhar no relógio nem se preocupar com contas para pagar. Ando trabalhando muito, comecei um novo negócio, tenho compromissos além do que consigo dar conta. Mas tenho o privilégio de encontrar tempo para brincar de balanço em pleno campus Santa Mônica. Céu azul, grama, os cachorros, o brinquedo... Só isso importava.Como é bom brincar. Se permitir esquecer dos compromissos, das cobranças, da vida adulta, das obrigatoriedades. O vento no rosto, a força nos braços para dar impulso e balançar cada vez mais alto. Um portal se abriu e me trouxe de volta. Foi-se Nenzico, voltou Adriana, a adulta, a séria, a comprometida.
Vou contar um segredo. Aquele balanço, aparentemente inocente, é na verdade um portal que permite a poucas pessoas viajar pelo tempo. Quem tem imaginação vira criança de novo. Ele também nos dá asas que permitem quase tocar o céu. É por essas e outras que eu amo o campus Santa Mônica. E que venham outros portais. Quem sabe qualquer hora entro em um deles e encontro outros pedaços de mim?
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