Uma das instalações do Inhotim |
Mal vimos o tempo passar, em um dia cheio de surpresas. São cores, barulhos, música, pinturas, esculturas, flores, água, terra, vento, gente, filme, movimento. Difícil dizer o que nos encanta mais. Tudo preenche os sentidos. Cada experiência nos tira energia e nos dá energia em troca. As palavras parecem que se tornam insuficientes naquele lugar.
Visitantes de diversas cidades passam pelo Inhotim todos os meses, em busca de alimentar uma parte do espírito que precisa de arte. Afinal, "a gente não quer só comida, a gente quer comida, diversão e arte" (como diziam os Titãs). Quando estamos naquele lugar, somos submetidos a uma overdose de estímulos. A arte emociona, choca, causa familiaridade e estranhamento.
Entre as salas que me causaram impacto, a gravação de um coral, onde cada voz foi registrada separadamente. Todas cantam juntas em uma sala repleta de caixas de som. Se você se posiciona no centro do espaço, ouve o todo. Se caminha perto das caixas, ouve cada cantor. Vozes masculinas e femininas, graves e agudas, coletivo e individual. A emoção de andar pela sala toma conta dos nossos passos, que se tornam eles mesmos únicos e coletivos.
Outro espaço que emociona é onde uma mulher conta seu sonho. A riqueza de sons e cores nos leva para dentro deste espaço onírico. Passamos a viver o sonho dela. Minha energia foi sendo drenada para dentro de um universo que não era o meu. Fui levada a pensar a locução dos meus próprios sonhos, tão estranhos, tão belos, tão loucos. Ao fim da narrativa, um choque de adrenalina ao sair do universo dela e voltar para o meu. Ou intregrá-los.
Das instalações que me tocaram profundamente, um espaço onde se pode ouvir o som da terra. Ouvi o som do meu coração pulsar junto com a terra. Ele bate forte. Ela vibra poderosa. Ele pequeno e único. Ela gigante e mãe.
A lagoa das bolas que se movem também ficou marcada em minha mente. Tem outro nome, claro. Estou escrevendo da maneira como me lembro. São dezenas de bolas metalizadas flutuando em um espelho d'água. Elas refletem a imagem de quem as olha. Numa viagem maluca, a gente pensa se está de fora olhando para dentro ou se na realidade estamos em um universo pequenino, olhando para fora.
De volta para casa, tenho que dizer que sinto muita falta de opções culturais em Uberlândia. O Instituto Inhotim funciona como uma empresa, cobra ingressos, tem restaurantes, lojas, transporte pago. E olha que não é barato, mas está sempre cheio. Isso porque sempre vai existir gente que valoriza cultura.
Aqui em Uberlândia, cultura não é muito levada a sério. Shows sertanejos e de piadas preconceituosas atraem público. Grupos de dança como o Balé de Rua ficam sem patrocínio. Sonho com uma cidade que amadureça culturalmente, em diferentes aspectos. Quem se sensibiliza pela produção artística se torna mais curioso, pesquisa mais, lê mais, questiona mais.
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