Fonte: www.doladodeca.com.br |
Recentemente, fiquei particularmente emocionada com a decisão do Supremo Tribunal Federal em julgamento relativo às chamadas uniões homoafetivas. A partir desta discussão histórica em nosso país, casais homossexuais que vivem juntos em união estável, terão direitos básicos, como convênio médico, herança, partilha de bens. É um primeiro passo.
Desde 1987, quando saí de casa para fazer faculdade, convivo com homens que amam outros homens, com mulheres que amam outras mulheres. No ambiente acadêmico, principalmente em um curso de Jornalismo, essas relações não causavam estranhamento, vinte anos atrás. Neste ambiente, ainda não causam hoje. Eu tinha 18 anos na época e já convivia, na sala de aula e fora dela, com pessoas que defendiam suas escolhas. Homossexuais, estudantes, pessoas do bem e do mal. Gente segura de si, gente com medo de sair do armário. Gente aberta. Gente que me ensinou demais.
Passados os tempos escolares, continuei encontrando, ao longo do meu caminho, muitos homens e mulheres homossexuais. Muitos gays, muitas lésbicas. Mais que isso, muitos profissionais espetaculares, pessoas boníssimas, especiais, alegres. Fomos crescendo juntos, deixando o preconceito a milhares de quilômetros de nossas vidas. Vi homens beijando homens, mulheres caminhando de mãos dadas, casais masculinos e femininos investindo em suas carreiras, edificando suas casas, criando cachorros e sobrinhos. Filhos? Quem sabe agora... Já vi sonhos com princepes e princesas encantadas. Já vi rompimentos e tristezas, encontros e desencontros.
A decisão do STF não acabará com o preconceito. Mas vai fazer com que a sociedade veja os homossexuais com mais respeito. Tanto faz se um homem ama outro homem. Se uma mulher ama outra mulher. O que importa é o verbo amar.
A vida colocou em meu caminho pessoas incríveis, que me acolheram com minhas próprias diferenças. Obesidade, óculos de fundo de garrafa, obsessão pelos estudos. Fui muito discriminada por ser gorda, inúmeras vezes. Sofri o tal de bullying ao longo da infância e juventude. Meus amigos gays jamais me discriminaram porque sou hetero. Muito pelo contrário, estavam sempre torcendo pela minha felicidade afetiva. Torcem até hoje. Nunca me deixei abater pelos rótulos e aprendi a aceitar as pessoas sem dar valor aos estereótipos. Aprendi a ser aceita apesar das minhas próprias diferenças. Algumas se foram. Outras se transformaram.
Temos direito às nossas escolhas, sejam pessoais, sexuais, profissionais, familiares. É ao mesmo tempo positivo e estranho que precisemos de uma casa de leis para assegurar o direito de escolhermos a quem amar e com quem partilhar, do ponto de vista legal, nossa vida e patrimônio. Paradoxismos à parte, é uma decisão a ser celebrada.
Nessa semana, a professora Jersina, em sua palestra, disse uma frase que adorei. Como sujeitos, somos muito mais que homens e mulheres, gays ou héteros. Somos múltiplos, somos muitos. É no mínimo esforço inútil querer nos resumir às nossas escolhas afetivas. Hetero ou homoafetivos, somos gente e donos de nosso destino, de nossas verdades.
Sonho em viver em uma sociedade sem preoconceito de raça, de cor, de classe social, de conhecimento, de amor. Um dia chegaremos lá. Juntos.
Um comentário:
Dri, como sempre você nos faz entrar em seus textos e neles ficar sem vontade de sair. Meu companheiro foi expulso de casa por que o irmão no o aceitou. E isto em meio às decisões políticas que nos passam a taxar agora de pessoas normais. Mas o que existe dentro do seu texto faz com que tudo, seja uma vitória política ou seja uma família que despreza seu filho por conta de sua opção, fique de fora de nossas vidas e nos faz ver que tudo vale muito por poder encontrar no caminho pessoas como você. Parabéns! Fabiano
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