Causa espanto!

Fonte: Blog do Roberto Lobato
www.robertlobato.com.br 
Chega de indecisão na hora de votar. Melhor não escolher nenhum deles.

Desde criança me interesso pelo processo eleitoral. Nasci durante a ditadura, próximo aos anos de chumbo. Direitos suprimidos, medo. Na reta final dos anos 1970 e começo dos 1980, a abertura começa a delinear-se. O país tem eleições, Arena e MDB digladiam-se nas ruas em busca de eleitores ainda desconfiados sobre as mudanças que se concretizariam nas décadas seguintes.
Eu era pequena mas entendia bem as diferenças entre os dois partidos. Já lia jornais, conversava com meus pais, observava a movimentação. Era louca para votar. Não sei se aspirava à vida pública, talvez em algum momento isso possa ter passado pela minha cabeça. Talvez não.
Cresci, tirei meu título de eleitor. Na época eu estudava em Londrina, a muitos quilômetros do meu domicílio eleitoral. Estudante, preferi não transferir o documento. Perdi algumas eleições, votei em outras, mas sempre procurando me manter bem informada, ler, ouvir, criticar, participar do debate.
Ao longo dos anos, votei certo, votei errado. Votei no Zaire, no Lula, no Azeredo. Mas também no Odelmo, no Aécio. Vivi a consequência dos meus erros e acertos. Mas o processo democrático é esse mesmo. Debate de ideias, propostas de melhoria, compromissos, divergências. Sempre procurei fazer minhas escolhas pautadas em minhas crenças. Gosto do processo eleitoral. Observo-o como cidadã e como comunicadora. Estudo, leio, converso a respeito. Procuro estar bem informada e agir como formadora de opinião, quando necessário.
Nestas eleições, em que se disputa a prefeitura da cidade que escolhi para viver, o processo eleitoral começou com muito profissionalismo, considerando-se tanto as candidaturas majoritárias (e milionárias) e a nanica (mas coerente). Ao longo dos dias, o que começou bem acabou declinando rapidamente para uma troca de acusações e uso de ferramentas escusas, das quais confesso que fiquei com vergonha.
Ataques são comuns em tempo de campanha, infelizmente. Eles predominam na campanha do candidato Luiz Humberto Carneiro, que elegeu dois ou três argumentos para questionar o discurso do adversário. Gilmar Machado, a princípio, adotou a postura da gentileza, de não responder às críticas diretas. Particularmente, essa postura começava a fazer sentido para mim, que vinha indecisa em relação ao meu voto, até a noite de ontem.
Todos sabemos que, em uma campanha, as alianças envolvem compromissos com diferentes grupos. O pagamento virá depois, quando o vencedor formar sua equipe de primeiro e segundo escalão. Por isso algumas pessoas dão tanta atenção à equipe que circunda o candidato. Recentemente, alguém ligado ao grupo do candidato Gilmar Machado postou um vídeo no You Tube, que me recuso a reproduzir, onde compara o Prefeito Odelmo Leão Carneiro ao ditador Adolph Hitler. Mundialmente, o alemão é símbolo de morte, de violência, de extermínio de inocentes. O vídeo cita nominalmente pessoas ligadas ao prefeito, algumas das quais conheço há longa data e respeito profissionalmente. Ridiculariza um homem público que contribuiu fortemente para a cidade se desenvolver e crescer. O vídeo, tosco, mantém o áudio original em alemão e utiliza legendas para mostrar o prefeito como um Hitler acuado. O pior é que assisti porque foi postado na timeline de duas pessoas que respeito muito. Caso contrário, acho que jamais clicaria em algo dessa irresponsabilidade.
Assisti ao vídeo ontem à noite e finalmente tomei uma decisão sobre o atual processo eleitoral. Não votarei em nenhum dos três candidatos. Luiz Humberto, como pessoa, tem traços de personalidade que não considero adequadas ao gestor de uma cidade como a nossa. Gilberto Cunha, com sua proposta socialista, também não merece minha confiança. Gilmar Machado perdeu ontem minha confiança e meu respeito. Não conheço a pessoa que postou o vídeo. Seu perfil no facebook contem críticas pesadas à campanha de Luiz Humberto, à sua equipe de trabalho e a pessoas próximas ao prefeito. Na foto, uma imagem genérica. Soa como um perfil fake, criado com o único propósito de influenciar da maneira mais vil algumas mentes fracas, como diz um colega. De toda forma, parece ser alguém próximo ao candidato petista. Como diz o velho ditado, diz-me com quem andas que te direi quem és.
Fico triste que a campanha em Uberlândia tenha descido tão vertiginosamente seu nível. Somos uma cidade que merece muito mais de nossos governantes. Espero que este post não seja visto como apoio ou repúdio. É mais um de meus desabafos, que faço solitariamente e fortemente decepcionada com os três postulantes ao cargo de gestor da minha cidade. Ainda bem que eleição não é processo seletivo porque em minha concepção, jamais contrataria qualquer um dos três para tomarem decisões em meu nome. 
Aos comunicadores de campanha, que se arriscam pelo mar das acusações, fica minha reflexão: candidatos falam com todos os segmentos da sociedade. Falam com eleitores de diferentes faixas de renda, formação, experiência de vida. Não tratem o eleitor como um rebanho anencéfalo. Infelizmente, nessa eleição plebiscitária, não temos uma alternativa que seja mais coerente e respeite nossa inteligência. Resta o consolo de saber que Uberlândia, historicamente, é maior que seus governantes. 

Um comentário:

Isac Jose Silva disse...

Adriana,

sao coerentes suas observacoes em relacao ao processo, mas sou uma pessoa convicta que nao podemos entregar a responsabilidade de escolha na mao de outros, ja pensou se todos tivessem a postura de se abster.
O processo democratico nos permite escolher, mesmo com algumas posicoes contrarias a menos ruim, pense nisto.
Em uma campanha, existem pessoas com pensamentos e posicoes diversas, e alguem que tomou esta posicao, de publicar um video desta natureza, com certeza nao seria a posicao do candidato.