17 de jul. de 2011

Movimento Internacional de Música de Uberlândia

Nos últimos dois dias, viajei pelo mundo sem sair de Uberlândia. Quer saber como? Transportada nas notas musicais do Movimento Internacional de Música de Uberlândia, promovido pela Universidade Federal. O evento trouxe à cidade músicos brasileiros e estrangeiros. Estudantes, professores e profissionais de diversas localidades vão se apresentar em diferentes espaços, como igrejas, praças, universidade e no Center Convention. Serão mais de cem concertos.
A abertura aconteceu na noite de sábado, 16 de julho, no pátio do novo teatro de Uberlândia, ainda em construção. Uma orquestra de câmara, formada por músicos de diferentes nacionalidades, apresentou várias peças, entre elas um arranjo a partir de composições de Baden Powell. Na mesma noite, a banda Ab´surdos, composta por estudantes de música com deficiência auditiva, receberam os convidados ao som de uma execução brilhante do Hino Nacional Brasileiro. A mesma banda apresentou música de autoria de um dos alunos do grupo. O regente Alex Klein, ao apresentar a música, lembrou à platéia que um dos músicos mais conhecidos do mundo, Bethoven, compôs parte de sua obra acometido pela surdez.
Na noite de abertura, o empresário Alexandre Biaggi, dono da distribuidora local da Coca Cola e um dos patrocinadores do evento, disse uma frase que me chamou atenção. Está na hora da cidade deixar de ser esse "porteirão" e investir mais em cultura. Ele esteve presente ao concerto de ontem e ao de hoje, mostrando que não basta pagar o patrocínio beneficiando-se das leis de incentivo. Tem que participar! Quantas vezes a gente vê eventos culturais na cidade onde são reservados lugares para os patrocinadores, eventualmente ficam vazios...
Na noite de domingo, foram apresentadas quatro peças, uma delas executada por um grupo de jovens russos, um quarteto de cordas. Uma execução emocionada e tocante, que leva à viagens por recantos inexplorados da alma da gente. O mesmo aconteceu com o solo de violino, de cello e de piano.
Confesso que, ao sair desse segundo concerto, perguntei a mim mesma se estava realmente em Uberlândia. Uma platéia formada por jovens estudantes em absoluto silêncio durante a execução das peças. Em absoluto silêncio quando o regente explicava o que iria acontecer durante o concerto. Em absoluta euforia após cada apresentação. Fiquei surpresa porque quando vamos ao cinema, convivemos com jovens que chutam cadeiras, falam alto, atendem ao celular. Porque em sala de aula, convivemos com alunos que navegam em seus gadgets, conversam sobre tudo menos o tema da aula e ainda insistem em ser aprovados, mesmo com notas medíocres. Vi nesses jovens estudantes de música o brilho no olhar que deveria existir naqueles que escolhem sua profissão pautados pelo amor.
A Universidade Federal de Uberlândia está de parabéns pela organização do MIMU, como está sendo chamado carinhosamente o evento. Serão duas semanas de concertos, todos gratuitos. Na praça do Coreto, na Oficina Cultural, no Campus Santa Mônica, na Igreja do Espírito Santo do Cerrado, no Center Convention, no Mercado Municipal. Tem muito Mimu ainda por vir.
A imprensa local, por enquanto limitou-se a anunciar quais concertos estão previstos, deixando de enxergar pautas maravilhosas, como a linguagem universal da música, a presença de profissionais de renome nacional e internacional, a homenagem a Calimério Soares, musicista uberlandense morto recentemente. No ar, uma mistura de gente que fala uma língua só, ensinada por mestres, marcada por clássicos e permeada por sensibilidade. Como jornalista, nestes dois dias eu enxerguei pelo menos cinco boas pautas, algumas inclusive estaduais ou nacionais.
Se você ainda não foi, participe do MIMU. Mesmo que não conheça ou não goste de música erudita, vá para experimentar. Para verificar a riqueza das combinações das notas musicais, a leveza nas mãos do artista. Confira a programação integral no site do MIMU. http://www.mimufestival.com.br/.

Sobre ipês e pérolas


A natureza nos permite algumas metáforas que são lindíssimas. Duas particularmente me tocam. Uma delas é a do ipê. A outra é a da pérola. São apenas uma árvore e uma pedra, mas seu processo de formação me leva a refletir.
Fonte: http://terraefemera.blogspot.com
Tenho paixão pelos ipês. Durante boa parte do ano, são árvores comuns, misturadas à paisagem urbana entre tantas outras árvores. Mas eis que, quando a temperatura cai ligeiramente e o ar fica mais seco, suas folhas começam a cair. Uma a uma, lentamente, ela perde todas as folhas. Se antes mesclava-se às demais, de repente passa a destacar-se por ficar desprovida de folhas. Uma árvore careca, com galhos secos e sem graça.
Talvez árvores pensem. Sei lá o que se passa dentro de um ipê prestes a florir pela primeira vez. Pode ser que ele imagine que aquele é o maior mico de sua vida. "Nossa, além de ser comunzinha o tempo todo, agora fiquei careca..." Mas... lentamente as flores começam a brotar nos galhos secos. Uma, duas, dez, cinquenta, cem pequenos cachos de flores se formam para fazer do ipê a mais bela árvore do cerrado.
É neste momento, com sua copa roxa, rosa, amarela ou branca, que ele se consagra e comemora seu florescer. Dura poucos dias, mas agora o ipê já conhece seu potencial, sabe que o tempo de verdejar é tão importante quanto o de perder as folhas, o de secar e o de florescer.
A metáfora do ipê, para mim, consiste em saber esperar o tempo das coisas. Todos nós temos nossos desafios, nossos momentos alegres e tristes. Todos temos uma missão. Temos nosso florescer.
A pérola
A pérola, por sua vez, nasce como um insignificante grão de poeira engolido pela ostra. Pobrezinha, inicia sua vida pensando que vai morrer. Deve temer o grão: "o que será de mim dentro da bocona desta ostra escura? Por que será que ela foi me engolir desse jeito?"
Mas eis que a ostra abriga o grão de areia e inicia um processo de transformá-lo em pérola. Não sei bem como isso acontece, mas deve dar medo ser grão de areia em boca de ostra. Imagina, você pequenininho, indefeso e sendo "atacado" pelo desconhecido?
Então, um belo dia, a ostra se abre e dentro dela uma pequena pedra preciosa, que um dia irá ornar a coroa de uma princesa ou o colar de uma atriz famosa. Uma coloração e um brilho únicos. Um potencial que só se desenvolveu porque foi possível passar pela transformação.
O processo de virar pérola é tão bonito que passou a dar nome ao tempo de 30 anos que um casal vive junto. Bodas de pérola. Penso que, quando duas pessoas que se amam resolvem se casar, elas são como dois grãos de areia. Vão morar numa mesma ostra e nela passam por muitos desafios, aprendizados, ganhos e perdas, alegrias, festas, surpresas. Compartilham filhos, amigos, partidas e chegadas.
Fonte: http://glammodaetendencia.blogspot.com
Nessa semana, um casal de amigos muito querido completou Bodas de Pérola. Vivem uma história de amor em uma ostra muito gostosa, onde educaram as filhas, recebem os amigos, criam cachorros. Passaram por muita coisa juntos. E permanecem juntos, fazendo brilhar a cada dia a vida daqueles que tem o prazer de conviver com eles. Esse texto é para as pérolas Lau, Carlos, Dani e Mimi. É também para as pérolinhas Beauty e Nina, que além de brilhar, sabem latir.
E assim termina essa crônica, que era para falar de natureza e terminou por falar de amor.

Mandacaru Sabor do Nordeste: vale a pena conferir


Dia desses, ao sair para jantar depois do concerto de abertura do Movimento Internacional de Música de Uberlândia, descobri um cantinho do nordeste em Uberlândia. Trata-se do restaurante Mandacaru - Sabor do Nordeste. Fica no bairro Roosevelt, uma casa simples por fora, mas com o calor dos nordestinos por dentro.
Chegamos e o restaurante estava vazio. Apenas uma moça jantava com uma menina. Fomos muito bem recebidos pela dona da casa, que nos mostrou o ambiente, todo decorado com peças artesanais, chapéus, trajes típicos, redes. As mesas, cada uma com o nome de um estado nordestino. Nas paredes, peças de argila, talhadas em personagens que fazem parte da cultura daquela parte do país, que muitos desconhecemos.
A recepção foi tão gostosa, que mesmo com o restaurante vazio, resolvemos ficar. O garçon, Tiago, extremamente educado, estuda música na Universidade Federal de Uberlândia e ficou conversando com a gente enquanto a macaxeira e o bobó de frango eram preparados pela Dona Fátima. No cardápio, tinha muita coisa típica, mas confesso que fomos mais conservadores. O restaurante não tem música ao vivo, mas rodava um DVD maravilhoso da Elba Ramalho. Fomos recebidos ao som de Anunciação. Um sinal de que a noite seria muito boa.
O jantar foi delicioso. A cerveja gelada. A recepção amiga. Ao terminarmos, D. Fátima pediu licença para recitar um poema de cordel para a gente. Um texto onde ela mistura a beleza de ser nordestina, o carinho em nos receber, a boa comida do lugar e sua vontade de que a gente voltasse logo. Tiago nos explicou muitas coisas do restaurante, dos temperos, da origem da familia.
Foi uma noite para lá de especial. O restaurante vazio, que assusta tanta gente, na verdade foi um presente para que a gente pudesse apreciar não apenas a refeição. Afinal, a gente não quer só comida, a gente quer comida, diversão e arte.
Se quiser conhecer o Mandacaru, segue o endereço: Rua Godofredo Machado, nº 138, bairro Presidente Roosevelt.

Afinal, o que é notícia?

Mais de uma vez usei o espaço do meu blog para falar sobre o jornalismo que se pratica em Uberlândia. Algumas vezes elogio posturas. Outras vezes critico. Hoje, queria apenas questionar. Há uma semana, a cidade sedia um festival de música erudita de altíssimo nível, com profissionais vindos de diferentes partes do mundo. Para os padrões locais, isso é ou não é notícia?
Nos primeiros dias do festival, o jornal local dedicou um espaço tímido para falar da programação e agenda. A cada edição esse espaço foi minguando, minguando... restringe-se na edição deste sábado a uma nota na seção de agenda cultural. Vi alguma coisa nos sites jornalísticos e nada mais. Nada nas emissoras de TV. Nem mesmo a Rádio Universitária, ligada à Universidade Federal de Uberlândia, promotora do evento, dedicou-lhe espaço jornalístico.
Aprendi na faculdade que o conceito de notícia envolve o tripé ineditismo, atualidade e interesse geral. Acredito que o Movimento Internacional de Música envolve pelo menos dois desses elementos, uma vez que música erudita realmente não é algo de interesse geral em uma cidade onde as preferências culturais são mais voltadas a outros gêneros musicais. Talvez seja essa a razão da baixa cobertura jornalística que o evento vem recebendo.
O Mimu é inédito, é a primeira vez que a cidade recebe um festival deste porte. Músicos de diversos países vieram ao Brasil para ensinar aos nossos músicos a arte de seus instrumentos. É atual, está acontecendo agora, coloca Uberlândia no cenário da música erudita nacional. Diariamente, centenas de pessoas participam das apresentações no Center Convention, pessoas de todos os tipos, entre estudantes e amantes da música. É também um novo tipo de turismo, o cultural, que movimenta a economia e traz riqueza para a cidade.
Fiz faculdade em Londrina, no Paraná, onde acontece anualmente um Festival de Música similar. A imprensa da cidade noticiava o evento diariamente. Além da agenda, fazia matérias sobre histórias de vida dos músicos, sobre a origem dos instrumentos, sobre as peças que seriam apresentadas. Na época, o papel da imprensa era o de mobilizar não apenas quem gostava de música, mas despertava o interesse de quem não conhecia. As matérias eram todas muito criativas, emocionantes e abrangentes. Os concertos aconteciam em diferentes pontos da cidade e muita gente ia conferir porque tinha visto matéria na TV ou lido no jornal e ficava curioso.
Sei que Uberlândia é uma cidade onde cultura é um tema delicado. São poucos os investidores, poucos os espaços, poucos os incentivos. Mas o Mimu Festival é notícia, que vem sendo ignorado pelos meus colegas de profissão. É como se a cidade não estivesse tomada por mais de 300 jovens músicos, que se apresentam todas as tardes e noites pelos diferentes cantos. O campus Santa Mônica respira ao tom dos violinos, violoncelos e flautas. Até os pássaros andam cantando diferente por lá.
Reclamamos muito da educação em nossa cidade. No trânsito, nos estabelecimentos comerciais, nas filas de pontos de ônibus. Nos espetáculos do Mimu, podemos ver exemplos de gentileza, disciplina, educação, beleza. É uma pena que a imprensa local não tenha visto interesse em divulgar tudo isso, preferindo ater-se às mesmas pautas de sempre. A música educa o espírito, estimula o respeito pelo outro, leva a uma reflexão muito bonita sobre nossas próprias potencialidades.
Queria parabenizar Viviane Taliberte e ao regente Alex Klein, que conduzem o Mimu Festival com beleza, classe e muita alegria. Parabenizar à Uberlândia Refrescos que, além de patrocinar, marcou presença. Uberlândia é uma cidade encantadora e vocês contribuem para torná-la leve como nota musical nestas duas semanas. O fato da imprensa local subestimar esse feito é triste, mas não lhes tira o brilho e mérito. E que venham os próximos.
Para quem já foi e quer matar saudade, selecionei um trechinho que achei no You Tube de Chega de Saudade. Para quem ainda não foi, espero que sirva de incentivo. Minha respiração ficou suspensa nesta noite, de tanta beleza.

2 de jul. de 2011

Ação no Bairro

Ação no bairro, na manhã de sábado
Vivo no Santa Mônica e considero esse um dos melhores bairros da cidade, restringindo-me aos de classe média. Gostaria, às vezes, de morar em um condomínio fechado, com um pouco mais de segurança. Mas eu perderia algumas coisas muito gostosas que a vida nos bairros populares, como este onde vivo, ainda proporcionam.
Hoje, por exemplo, fui passear com meus cachorros e resolvi ir até o lugar onde estava acontecendo um evento chamado Ação No Bairro, promovido pela prefeitura e TV Integração. Fui para pegar uma muda de árvore para plantar na calçada de casa. Ao chegar lá, uma verdadeira festa da cidadania.
Tinha muita gente, de todas as idades. Gente na fila para cortar cabelo, tirar documentos, consultar o Procon, o Sebrae. Tinha muita gente pegando muda de árvore. Tinha criança, adulto, velho. Estava um ambiente muito legal, que resgata um pouco do que acontecia nas cidades de 20 ou 30 anos atrás. A gente ia para a praça e encontrava os amigos, batia um papo, ficava sabendo das novidades.
Em todos os lugares da praça, tinha alguma coisa acontecendo. O dia maravilhoso deve ter contribuído para o clima do lugar. Além disso, sábado é dia de feira e muita gente aproveitou para dar uma passadinha no evento logo depois das compras semanais.
Outra coisa que adoro no bairro é que a gente conhece os vizinhos e eles conhecem a gente. Cumprimento muita gente pelo caminho. Ando muito a pé, tanto para ir ao supermercado, farmácia, banco, passear com os cachorros. Alguns vizinhos me conhecem pelo nome, outros não, mas a gente sempre tem uma palavra boa, um sorriso, um gesto de gentileza.
Procuro também praticar a boa vizinhança. Recolho o cocô dos meus cachorros, não faço barulho depois das 22h, entrego a correspondência que os correios insistem em colocar errado na minha caixa de correspondência. Não sou de frequentar a casa dos meus vizinhos, nem eles frequentam a minha, mas existe um clima de cordialidade, de cidade pequena, de um sentimento genuíno de alegria nos encontros.
Hoje senti isso na praça onde aconteceu o Ação no Bairro. Queria ficar lá mais tempo, mas os afazeres domésticos do fim de semana me avisaram que era melhor voltar para casa. Lugar onde me sinto segura, em grande parte, por causa da qualidade da minha vizinhança maravilhosa!

No embalo de Ivan Lins: reflexões sobre mim

Fonte: http://www.atlanteonline.com.br/
"Começar de novo e contar comigo
Vai valer a pena ter amanhecido
Ter me rebelado, ter me debatido
Ter me machucado, ter sobrevivido
Ter virado a mesa, ter me conhecido
Ter virado o barco, ter me socorrido"

Ivan Lins (para ver o clipe, clique aqui)

Novos começos representam momentos de grande confusão. Onde chegamos a duvidar de nós mesmos e de nossa capacidade de reescrever a própria jornada. Começar de novo, quando já caminhamos um bom trecho de nossas vidas, pode ser doloroso, pode machucar. Mas pode também ser uma oportunidade de reinventar-se.
E aí me vem novamente Ivan Lins, quando escreve:

"Desesperar jamais
Aprendemos muito nestes anos
Afinal de contas, não tem cabimento
Entregar o jogo no primeiro tempo
Nada de correr da raia
Nada de morrer na praia"
(para ver o clipe, clique aqui)

Tenho enfrentado grandes desafios pessoais ao longo dos últimos anos. As perdas foram grandes, em diferentes sentidos. Mas tive e tenho a cada dia a oportunidade de reescrever uma história de vida. Dizem que aos 40 anos toda pessoa inicia um processo de transformação. Dizem que a vida começa aos 40. Ou termina, sei lá. No meu caso, penso que um pouco antes terminou uma vida conhecida e familiar, confortável. E começou outra que me deixa com certa frequência à beira de um precipício. Vida e morte severina.
Nesta beirada, qual enigma, desponta em minha cabeça: decifra-me ou te devoro. Lança-te no vazio do precipício, sem saber o que haverá no fundo. Se é que existe fundo. Permanece estática à beirada, pensando no que poderia ser e não foi. Lança-te e surgirão asas de algum lugar ainda não estudado pela mente humana. Permanece à beirada e convive com o conhecido.

Já que Ivan Lins domina o texto, tudo

"Depende de nós
Quem já foi ou ainda é criança
Que acredita ou tem esperança
Quem faz tudo pra um mundo melhor."
(para ver o clipe, clique aqui)

Depende de nossas escolhas. Em alguma esquina desse caminho, a gente vira à direita e deixa de saber para sempre o que poderia haver à esquerda. Em algum lugar escolhe ser médico e deixa de saber como seria ter escolhido a carreira de artista. Acorda e resolve casar, ter filhos, cuidar dos netos. Vai dormir e decide que a partir daquele momento tudo vai ser diferente, você vai aprender a ser gente...
A mudança é incômoda, mas certa. A zona de conforto é, na verdade, onde estamos menos desconfortáveis. Somos seres inquietos, ansiosos por mais, sempre mais... dinheiro, bens, felicidade, amor, saúde. A mudança é democrática, não escolhe cor, raça, classe social, gênero. Chega e mexe em tudo. Joga para o ar e vê como vai cair. Sabe jogo de bugalho? Onde as pecinhas são jogadas para o alto e podem cair umas sobre as outras? Algumas vezes isso facilita a vida do jogador, em outras, impossível não bulir.
Muitas coisas estão sem sentido agora. Mas em breve sei que o desenho da vida vai se delinear de forma clara e transparente. Hoje li um texto no jornal que falava disso, era sobre um bordado que a criança só via do avesso. Quando a mãe termina, mostra o lado certo e a criança percebe a beleza que antes não via, porque seu olhar era diferente do que a mãe, artista, possuía ao ver seu trabalho por cima.
Por fim, um texto que já foi atribuído à Clarice Lispector, mas não sei se é dela mesmo: "Mude, mas comece devagar, porque a direção é mais importante que a velocidade."





Parque do Sabiá: o lugar mais lindo de Uberlândia

Depois de dois anos, uma hérnia de disco e um título de mestrado, finalmente voltei a caminhar no Parque do Sabiá. As coisas não aconteceram necessariamente nesta ordem, mas o fato é que para mim, este é o lugar mais maravilhoso de Uberlândia.
O Parque do Sabiá tem particularidades que só os visitantes conhecem. As cores do dia são mais bonitas ali. O azul do céu quando amanhece tem uma tonalidade diferente do azul de outros lugares. No finalzinho da tarde, ele se pinta com diferentes vermelhos, desenhando um pôr do sol sem precedentes, cada dia mais lindo e único.
Tem os gatos que moram ali na esquina com o estádio João Havelange (que um vereador ocioso quer alterar o nome, como se a cidade já não tivesse tantos problemas mais sérios para tratar...). São gatinhos rajados, pretos, caramelo, brancos, algumas gatinhas prenhes. Eles vivem por ali, alguns são alimentados pelos frequentadores. Alguns brincam divertidamente sem se preocupar com os caminhantes. Alguns esticam o pescoço buscando um afago. Multiplicam-se vertiginosamente ali e parece que são invisíveis ao poder público, que no mínimo deveria castar machos e fêmeas para evitar a multiplicação.
Tem as pessoas mais velhas, senhoras que caminham apressadas, algumas até correm. Senhores bonitos, que cuidam da própria saúde e causam inveja em muitos garotões. Velhinhas que caminham vestindo saias e calçando tênis, com a cabeça protegida do sol por bonés e chapéus coloridos. Tem a "bom dia, bom dia", uma atleta que cumprimenta todas as pessoas que encontra pelo caminho. Tem as vovózinhas de cabeça branca que sempre lançam um sorriso doce em nossa direção. Tem moças e moços bonitos, caminham ouvindo música, caminham em bandos, correm, passeiam, namoram.
Tem namorados também. De vez em quando os flagro na beira da lagoa, sentados em um banco de madeira admirando o nascer do dia ou o final da tarde. Embevecidos pela beleza do lugar, eles contemplam. São poucos, uma vez que já não temos tempo de olhar para a natureza ou para o outro.
Tem as árvores, com copas de todas as cores, com o vento que canta entre as folhas e flores que brotam em todo lugar. Tem os patos que nadam despreocupadamente nas frias e quentes manhãs de todos os dias do ano. Tem as capivaras, caminham em bandos e metem medo em quem as vê. Mas são bichos legais. Tem o leão, que de vez em quando ruge tão alto que se ouve no parque todo.
Gosto tanto do Parque do Sabiá que gostaria que mais gente conhecesse e valorizasse. Falei das coisas boas, mas tem as ruins também. Tem lixo espalhado em todos os lugares depois dos fins de semana. Tem bebedouros que vazam há meses, tem luzes ligadas desnecessariamente, tem funcionários algumas vezes grosseiros. Tem o barulho da rodovia BR 050 ao lado do zoológico, infernizando a vida dos pobres animais e levando muito gás carbônico aos pulmões deles.
Viram como as coisas ruins são pouquinhas? É que o Parque do Sabiá é um presente para a cidade. Um lugar especial, onde uma energia muito positiva circula. Energia de gente que se ama e se cuida. Energia de quem não está nem aí com o jeito que o outro se veste para fazer exercícios. Energia de quem cumprimenta com um sorriso ou com um olhar uma pessoa desconhecida. Energia de quem ama e respeita a natureza. Energia de quem acorda com o sol.

Meio ambiente: não seriam necessárias as leis se investíssemos em educação

Fonte:
http://sustentabilidadenaoepalavraeaccao.blogspot.com/
Teoricamente, começaria a valer hoje (2 de julho), em Uberlândia, a lei que proíbe estabelecimentos comerciais de oferecerem sacolas plásticas tradicionais aos consumidores. Em substituição, eles deveriam oferecer embalagens feitas com um material diferenciado, cuja impacto ambiental seria reduzido. Poderiam também estimular o uso de sacolas retornáveis ou caixas de papelão.
Usei o adjetivo "teoricamente" porque logo cedo fui à feira e as sacolinhas eram utilizadas normalmente, sem o menor constrangimento. Uma das feirantes, quando uma cliente pediu uma embalagem a mais, respondeu prontamente: "Adoro quando vocês me pedem mais, sinal que vão levar muita coisa".
Particularmente, uso sacolas retornáveis há alguns anos, mas para carregar folhas e o queijo fresco, que compro semanalmente, preciso ainda das sacolas de plástico. Como é que vou carregar e conservar as folhas soltas na geladeira? Posso aproveitar as embalagens semanalmente, aliás, estou pensando nisso, em não jogar fora essas embalagens e reaproveitá-las para as compras semanais.
A lei que trata do assunto em Uberlândia, ao que parece, foi mal elaborada, porque deixa muitos pontos em branco. Por exemplo, a responsabilidade em relação às embalagens seria do consumidor ou do varejista? Já se falou até mesmo em cobrar pelas embalagens, prática adotada em países que assumiram o compromisso de abolir o plástico das compras cotidianas. Já li reportagens onde o Procon defende um ponto de vista, a procuradoria que defende os direitos do consumidor outro, a associação dos varejistas um terceiro, o vereador que redigiu a lei um quarto... e assim por diante. Li hoje que a lei federal, se colocada em prática, faz com que sejam desnecessárias regulamentações municipais ou estaduais.
Li um texto engraçado ontem, que falava sobre o uso doméstido que se faz das sacolas, entre eles o de embalar o lixo. Há tempos, quando eu era criança, não se embalava o lixo. Ele ia para latas, que por sua vez eram colocadas na rua nos dias que o caminhão passava. Os lixeiros esvaziavam nossas latas e as devolviam, algumas vezes umas três casas para a frente, mas todo mundo se conhecia e sabia qual era a lata do vizinho. Medidas de higiene levaram toda a população a adotar os sacos para embalar o lixo. Mudamos de hábito e agora somos premidos a mudar novamente.
As compras dos supermercados eram embaladas em sacos de papel. A gente comprava arroz, feijão, café, macarrão a granel (os mais jovens nem vão saber o que é isso...) e tudo era embalado nesses sacos. Se a quantidade era maior, tinha a embalagem feita de juta, muito usada na época.
O mercado forçou uma série de mudanças de hábito. Embalagens individuais, pequenas, médias e grandes. Sacolas de plástico apareceram como algo que iria facilitar a vida da dona de casa. O saco de lixo passou a ser obrigatório e os lixeiros pararam de recolher as latas. Só os sacos de lixo em diferentes cores e modelos.
Aí vem uma lei e fala: vamos mudar tudo de novo. Não creio que sejam leis que farão com que as pessoas sejam ambientalmente responsáveis. Desde os anos 80 nós ouvimos falar sobre aquecimento global, buraco na camada de ozônio, uso exagerado dos recursos naturais. As sacolas plásticas não são o único vilão. Se as leis resolvem, sugiro aos vereadores de Uberlândia que criem mais algumas e que comecem eles mesmos a praticá-las:
1) vamos proibir as donas de casa de lavarem as calçadas com água escorrendo pela mangueira. Calçada se limpa com vassoura e pazinha na mão;
2) vamos proibir os órgãos públicos de desperdiçar energia, com o acendimento das luzes apenas quando necessário. Chega de prédios públicos com todas as luzes acesas antes e depois do horário de funcionamento;
3) vamos proibir as pessoas de pegar o carro para ir até a padaria do bairro, afinal, é possível andar dois ou três quarteirões à pé;
4) vamos obrigar os donos de cachorros e cavalos a recolher os dejetos de seus animais, afinal, é necessário gastar água para limpar a sujeira deixada para trás;
5) vamos proibir empresas de distribuírem encartes publicitários que lotam nossas caixas de correio e acabam indo parar no lixo. Vamos proibir a impressão exagerada de santinhos em campanha eleitoral, porque depois eles vão parar nas ruas, onde vão entupir bueiros.
Proibir o uso das sacolas plásticas não vai resolver muita coisa. Educar a população para o uso racional delas seria mais produtivo. Que tal colocar mais itens por sacola nos supermercados? Que tal recusar sacolas para embalar pequenos itens, que podem ser colocados na bolsa? Que tal distribuir sacolas retornáveis aos consumidores, ao invés de vendê-las? Que tal reaproveitar a sacola de plástico na feira?
Não sou contrária à lei que impede a utilização das embalagens. Apenas acredito que, em uma sociedade que exerce sua cidadania, leis como essa são desnecessárias e demagógicas. Vamos fazer leis que tragam recursos para a educação. Vamos educar as crianças, para que não seja necessário punir os homens, como preconizou Pitágoras.

Este post está participando do Concurso Cultural “Iniciativa Verde”, promovido pela Algar Telecom, detentora da marca CTBC. Acesse: www.ctbc.com.br/sustentavel e saiba mais.